– Júlia, eu não acredito que de novo seu pai deu sorvete antes do jantar! | ||
– Ah, mãe, não é sorvete, é sacolé! | ||
– É gelado e tira seu apetite do mesmo jeito! | ||
– É, Júlia, sua mãe já está transformando sacolé em sorvete (ri)... bem que podia transformar pedra em ouro... rs | ||
– Ah, pai, isso só aquela bruxa do programa da televisão é que faz, e mamãe não é bruxa... | ||
– Não, mas é alquimista (ri). | ||
– Alquimista não, química!!! | ||
– E tem diferença? | ||
– Claro, querido. Os alquimistas, para começar, não eram cientistas, porque eles não empregavam o método científico. Há muitas interpretações sobre a alquimia, até nos dias de hoje. Eles misturavam conceitos que hoje pertencem à Química, à Física e à Biologia, mas também lançavam mão de teorias pseudocientíficas, como a astrologia, e de dogmas religiosos.
Alquimia e Química... o que elas têm em comum e no que diferem? |
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– Mãe, então um cientista não pode ter religião? | ||
– Claro que pode, Júlia, e a maioria tem. Só que uma coisa não deveria interferir na outra. Em minha opinião, um cientista não pode analisar os resultados dos seus experimentos de acordo com os princípios de sua crença religiosa, assim como as religiões não devem distorcer resultados científicos para tentar comprovar seus dogmas. | ||
– Nossa, discutimos isto na aula de Teoria do Conhecimento lá na faculdade esta semana! O conhecimento científico busca as relações de causa e conseqüência dos fenômenos. Essa busca se baseia sempre na realização de experimentos para testar uma hipótese, ou seja, no chamado metodo científico. Já o conhecimento teológico se baseia no dogma, em um conhecimento revelado. | ||
– Pois é, querido. A Ciência não busca descobrir se Deus existe ou não, porque isto está além dos seus limites, da mesma forma que a Ciência também não lida com temas como a Ética, que pertencem ao mundo da Filosofia, e que são analisados pelo método racional. | ||
– Mãe, acho que o bife tá queimando.... | ||
– Nossa! Me esqueci dele! Vai virar carvão! (ri) | ||
– Pronto, já começou a falar de Química... só falta querer fazer uma reação com o bife.. rs... | ||
– Querer fazer? Já fiz... | ||
– O quê? Como? | ||
– Ora, quando eu fritei o bife, várias reações aconteceram... | ||
– Mas mãe, a professora falou que é importante comer carne por causa das proteínas...o bife frito não tem proteínas? | ||
– T: Tem sim, meu bem, mas elas sofreram transformações... por exemplo, alguns dos aminoácidos que formam as proteínas sofreram reações, formando as chamadas aminas heterocíclicas, que podem provocar problemas de saúde... há, inclusive, estudos que mostram que essas aminas podem ter atividade mutagênica, e por isso podem estar associadas a alguns tipos de câncer... | ||
– O quê??? Ainda bem que eu só como carne assada na brasa lá no restaurante a quilo... | ||
– T: Na brasa do carvão? Não faz diferença, e além das aminas heterocíclicas você também vai ingerir hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Li na internet um resumo da tese de uma colega professora sobre a presença dessa classe de compostos em diversos alimentos... | ||
– Pára, senão eu não janto! Júlia, vá se sentar para comer seu bife ao molho de aminas... (ri)
Há mais Química em fritar um bife do que a nossa vã imaginação possa imaginar... Afinal, para que fritamos um bife? Que reações químicas ocorrem com as suas proteínas durante o cozimento? |