– Eu não acredito que vamos ter que encarar esse engarrafamento logo tão cedo. Acho que vamos chegar lá na mesma hora que chegaríamos se tivéssemos saído mais tarde de casa. | ||
– Deixa de ser exagerado! Daqui a pouco estamos chegando... | ||
– Mãe, você trouxe o protetor solar? Não quero ficar parecendo um camarãozinho depois... | ||
– Mas a gente já passou protetor em casa, antes de sair... | ||
– É claro que eu trouxe, meninas. Mesmo já tendo passado protetor em casa, vocês precisam passar novamente após um certo período de exposição à radiação ultravioleta emitida pelo Sol. | ||
– Radiação ultraviolenta!!! Já que você falou em radiação do Sol, me explica por que não poderíamos ter saído mais tarde de casa? | ||
– Agora o que eu vou fazer é te dar um pouco de água. Você está suando tanto que parece que está derretendo... Em casa eu te mostro um site sobre os benefícios e possíveis malefícios da radiação solar. | ||
– Você tem razão, meu amor! Está muito quente aqui dentro e eu estou com muita sede. | ||
– Você precisa tomar mais água. Na verdade, todos nós precisamos, porque é uma maneira de repor a perda de líquido e sais minerais, principalmente em dias quentes como hoje. | ||
– Amor... Aproveita que o tráfego está lento e me explica novamente por que quando tomamos água ingerimos também sais minerais? Que sais são esses? É o sal de cozinha?! | ||
– Sal de cozinha... Você é muito bobo mesmo! Você não acha que a água seria salgada se tivesse sal de cozinha? | ||
– Boa pergunta! É verdade... Eu acho que a água seria salgada, sim, mas não é. Mas como ela pode ter sais e não ser salgada? Esses sais não deixam a água salgada, então? | ||
– Mamãe, eu estou prestando atenção na conversa de vocês e estou me lembrando de uma aula que a nossa professora deu sobre água do mar e água de rio. Ela disse que a água do mar é salgada e a água do rio é doce. Ouvindo o que vocês estão falando, eu e a Mariana achamos que a água do mar é salgada porque tem sal e a água do rio é doce porque tem açúcar.
O soro fisiológico é uma solução de cloreto de sódio a 0,9%. Por que somos reidratados com solução salina, e não com água pura? Qual a relação entre a composição salina da água do mar e a do nosso organismo? Fonte: http://www.flickr.com |
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– Que conclusão interessante, filha! É uma pena que não esteja correta. Na verdade, as águas doce e salgada têm sais minerais. Não tem açúcar na água doce! O que as diferencia é a concentração dos sais dissolvidos nela. | Nota 1 | |
– Tânia, estou aqui pensando e só agora eu saquei por que nos rótulos das garrafas de água está escrito "água mineral natural". É porque nelas há sais minerais dissolvidos... Me explica melhor que negócio é esse de "concentração" de sais na água?
Selo da Levíssima Fonte: http://www.drm.rj.gov.br |
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– Puxa vida... Hoje você está me bombardeando com tantas perguntas "salgadas"! Amor, aproveita o trânsito parado e dê uma olhadinha no rótulo desta garrafinha d'água. O que você lê na parte "composição química"? | ||
– Só você mesmo pra me fazer olhar a composição química da água. Não sei pra que tem tanta letrinha miúda aqui... É claro que eu vou ler H2O! | ||
– Que engraçadinho! Eu acho que você vai se surpreender! | ||
– Olha só... Nesta garrafa está escrito: "Composição química (mg/L): bicarbonato = 160,73; sódio = 31,02; cálcio = 22,49; sulfato = 3,40; magnésio = 2,82; potássio = 2,27; cloreto = 1,98; estrôncio = 0,69; fluoreto = 0,26..." Nossa... Quanta coisa! Aqui ainda diz que a água é fluoretada. Estou chocado... O que significa tudo isso? A fórmula da água não é mais H2O?! Eu pensei que a água que a gente bebia era pura, mas agora estou convencido que há um monte de "coisas" misturadas nela! | ||
– Mas você é muito bobo! H2O é a fórmula química da substância pura. Mas a água mineral não é uma substância pura, apenas a água destilada é que é. Como eu já falei, a água que você vê dentro desta garrafa é uma solução. E você está certo quando diz que há várias "coisas misturadas na água". Por definição, toda solução é uma mistura homogênea. Você lembra o que é uma mistura homogênea, não lembra? | ||
– É claro que sim! Mistura homogênea é aquela que exibe apenas uma fase, ou seja, apresenta aspecto uniforme. Mas então qual é a relação entre solução, água e esse monte de "coisas" que eu li na composição química da água mineral? | ||
– Toda solução é uma mistura (homogênea) de duas ou mais substâncias em uma única fase. Dizemos então que a substância em maior quantidade molar (ou fração molar) é o SOLVENTE e os componentes em menor quantidade molar são chamados SOLUTOS. No caso da água mineral, o solvente é a água (H2O), e os solutos são os sais dissolvidos nela. Além disso, a composição química da água mineral é determinada pela quantidade de sais dissolvidos na água. O que você leu no rótulo é a concentração, em miligrama por litro (mg/L), de vários íons: Na+, K+, bicarbonato (HCO3-), sulfato (SO42- ), fluoreto (F-) etc. Esses íons em solução recebem o nome de eletrólitos; são oriundos da dissolução de diversos sais inorgânicos (compostos iônicos) na água. Eu me lembro que um dia desses nós conversamos sobre o que é um cátion (íon carregado positivamente, como Na+ e CA2+) e o que é um ânion (íon negativo, como F- e SO42- ).
A água do mar bate na pedra; a água do mar recebe a água do rio, que também bate na pedra... O que acontece com a pedra? Ela se dissolve na água? Fonte: http://www.flickr.com |
Nota 2 | |
– A água do mar bate na pedra; a água do mar recebe a água do rio, que também bate na pedra... O que acontece com a pedra? Ela se dissolve na água? | ||
– É verdade, Tânia, eu me lembro dessa conversa... Mas o que significa essa concentração de íons? | ||
– A concentração de soluto, seja ele iônico ou não, define uma relação entre a quantidade de soluto e a quantidade de solução. A grosso modo, é o quanto temos de soluto dentro de uma certa quantidade de solução. | ||
– Mas só é possível falar em concentração em termos de mg/L? | ||
– Não! Existem diversas outras unidades de concentração de solutos. A unidade mg/L é apenas uma delas. Existem as unidades chamadas de molaridade (com r), molalidade (com l), fração molar, normalidade - obsoleta hoje em dia - e algumas outras. Veja, Carlos, qualquer que seja a unidade de concentração, ela sempre expressará uma relação entre a quantidade de soluto e a quantidade de solução. Quer ver um exemplo, já que estamos falando de mg/L? Para você que é matemático, vai ser mole! | ||
– Manda lá! | ||
– Acompanhe meu raciocínio... Considere uma concentração de 1 mg/L para um soluto qualquer que não tenha influência sobre a densidade da água. Considerando água como solvente, 1L = 1kg porque d = 1g/mL, certo? Isso quer dizer que teremos 1mg de soluto em 1kg de solução, isto é, 106 mg de solução. Então, podemos ver a solução como sendo uma parte de soluto em 1 milhão de partes da solução. Assim, definimos a unidade chamada ppm (partes por milhão). Entendeu? | ||
– Claro, agora você falou minha língua. Partes por milhão! Mas podemos usar qualquer relação de 1 para 1 milhão, assim como 1 grama para 1 tonelada? | ||
– Sim, meu amor... Também podemos definir a unidade ppb (partes por bilhão). O racíocinio é exatamente o mesmo! Só que agora a relação é de 1 para 1 bilhão. Usamos essas unidades quando desejamos mensurar quantidades muito pequenas de soluto frente a uma quantidade muito grande de solução. É o caso de alguns metabólitos no sangue ou de alguns metais pesados na água de um rio ou lençol freático. Depois eu te mostro com cuidado como essas e outras unidades são definidas. Agora vamos arrumar uma vaguinha pra estacionar!
Os materiais particulados são um dos principais poluentes do ar . Eles formam uma solução com o ar? Podemos também expressar sua quantidade no ar em ppm ou ppb? Fonte: http://www.flickr.com |