Neurocognição

Dois exemplos famosos de dependência de estado

As memórias podem depender não só de estados neuro-humorais ou hormonais internos do indivíduo, mas também de estados causados pela ingestão de substâncias externas, como o álcool e outras.

Os melhores exemplos destes casos pertencem, o primeiro à história da literatura, e o outro à história do cinema.

O da literatura é o protagonista do célebre romance de Robert Louis Stevenson (1850-1894), O Médico e o Monstro. Um médico conhecido dedicou-se, nas horas vagas, a elaborar um líquido que, quando ingerido, podia transformá-lo em outra pessoa. A substância teve o efeito, inesperado, de transformá-lo num ser de características monstruosas, cruel e selvagem: o aterrorizante Mr. Hyde. Uma vez passado o efeito da droga, o protagonista readquiria as formas, o aspecto e o temperamento do cortês e pacato Dr. Jekyll. O fenômeno se repete várias vezes ao longo do romance, que foi vertido a várias versões cinematográficas, inclusive uma com participação do coelho Pernalonga, que talvez seja a melhor.

O mais engraçado e talvez mais sutil caso de dependência de estado, é apresentado por Charlie Chaplin (Carlitos) num filme de 1931, Luzes da Cidade, um dos grandes clássicos da história do cinema. Nele, um milionário amante da vida noturna desenvolve, estando bêbedo, uma enorme simpatia pelo vagabundo interpretado por Chaplin. Ele o convida a sua casa, leva-o a festas etc. Mas quando acorda da bebedeira, o milionário nem sequer reconhece Carlitos, e o expulsa energicamente de onde estiver. Os episódios se repetem várias vezes, para desorientação do vagabundo, que nunca compreende por que o ricaço às vezes é seu amigo e às vezes não. A amizade do milionário pelo vagabundo dependia do estado causado pelo álcool e não era recordada por ele no estado de sobriedade.

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