Neurocognição

Estudos em humanos

Ficou claro que só seria possível provar a capacidade humana para a neurogênese na fase adulta estudando diretamente seres humanos. No entanto, as técnicas utilizadas para comprovar a formação de novos neurônios em animais não pareciam ser aplicáveis em pessoas. Elas variam, mas em geral se baseiam no fato de que as células, antes de se dividirem, duplicam seus cromossomos, permitindo que cada célula filha receba um conjunto completo. Nas experiências realizadas com animais, injeta-se um material rastreável (um "marcador") na cobaia, que se integra somente ao DNA das células que se preparam para divisão. O marcador torna-se então parte do DNA das células filhas e é herdado pelas filhas das filhas, assim como pelos futuros descendentes das células originais.

Após um período, algumas das células marcadas se diferenciam ou seja, se especializam em tipos específicos de neurônios ou células gliais (outro tipo principal de células cerebrais). O cérebro da cobaia é então removido e seccionado, e as partes recebem um corante para ajudar a localização das células que têm o marcador (sinal de que derivam das células originais), a que apresentam as características químicas e anatômicas de um neurônio.

Obviamente, seres humanos não podem ser testados dessa forma. O obstáculo parecia intransponível até que Eriksson deparou com a solução durante um período sabático com nossa equipe no Salk Institute. Em consulta com um oncologista, Eriksson, que é clínico, descobriu que a substância que utilizávamos como marcador em animais a bromodeoxiuridina (BrdU) coincidentemente estava sendo ministrada a alguns pacientes, em fase terminal de câncer da laringe ou da língua, que participavam de um estudo. Eriksson percebeu que, se conseguisse obter o hipocampo dos que viessem a falecer, poderíamos verificar se algum neurônio exibia o marcador de DNA. Isso significaria que havia sido formado após a substância ser ministrada, ou seja, que havia ocorrido neurogênese, presumivelmente através da proliferação e diferenciação de células-tronco durante a fase adulta do paciente.

Eriksson obteve autorização para a pesquisa. Entre o início de 1996 e fevereiro de 1998, recebeu o tecido cerebral de cinco pacientes, entre 57 a 72 anos de idade, falecidos. Conforme as expectativas, os cérebros apresentavam novos neurônios, especificamente aqueles conhecidos como células granulares no giro denteado. Devemos a prova da neurogênese humana adulta à generosidade desses pacientes. Desde então, a equipe de Gage, bem como Steven A. Goldman e colegas da facudade de medicina da Cornell University, têm isolado células cerebrais de autópsias e biópsias do hipocampo de adultos. Essas células conseguem se dividir em meios de cultura e serem induzidas a produzir neurônios, confirmando assim a possibilidade de haver neurogênese no cérebro humano adulto.