De volta aos gregos

A partir da constatação de que a matéria é descontínua, podemos rever os pensadores gregos e seus ensaios sobre a constituição da matéria.

Entre todos os povos da antigüidade ocidental, foram os gregos que mais influenciaram nossa cultura, através de suas tentativas de dar um sentido ao mundo natural, a partir da catalogação e exame de fatos, que associados formavam pensamentos racionais.

Foram os primeiros filósofos a procurar interpretar a natureza sem recorrer à magia ou à superstição para apoiar quaisquer fraquezas ou obscurantismo de suas explanações.

Considerando os vários representantes do denominado pensamento cientifico grego, serão ressaltados Zenão de Eléa, bem como Leucipo e seu discípulo Demócrito, devido às suas concepções sobre a constituição da matéria.

Zenão ocupava um lugar importante no desenvolvimento da matemática grega, pois seus paradoxos realçavam o estranho fenômeno descoberto por Pitágoras em seu teorema dos triângulos retângulos: fenômeno da incomensurabilidade - o fato de existirem alguns valores que não podiam ser expressos em números inteiros. Zenão queria uma série contínua, uma continuidade entre a unidade (tempo ou distância) e a seguinte. A idéia de chegar a bom termo com a incomensurabilidade usando um número infinito de unidades muito pequenas, como havia feito Pitágoras, era por ele rejeitada por não se adaptar às perspectivas de seu mestre Parmênides.

Analogamente, Zenão apregoou que a matéria também era contínua, isto é, poder-se-ia dividi-la indefinidamente que jamais se chegaria à menor parte, pois uma ínfima parte poderia ainda ser dividida em duas outras partes, sem que suas características fossem alteradas.

Por outro lado, por volta de 478 a.C. nasceu em Abdera a teoria atômica grega, que teve em Leucipo seu primeiro defensor. A base da Teoria de Leucipo-Demócrito era de que existem duas coisas: os átomos (em grego 'a' = não; 'tomos' = parte) e o vácuo. O mundo era, portanto, composto de montes de matéria em um mar de vazio total. Um átomo não poderia ser cortado ou dividido de qualquer maneira, e era completamente sólido. Todos os átomos estariam em perpétuo movimento no vácuo.

Então, tudo o que veríamos ao nosso redor seria composto de átomo e vácuo, não existindo mais nada. As substâncias eram diferentes entre si porque seus átomos defeririam na forma ou no modo como estivessem arranjados. Os átomos poderiam estar bastante perto para se tocarem, o que originaria um denso e rígido material, ou poderiam estar afastados a uma certa distância em materiais macios e maleáveis.

A amplitude da experiência diária que a teoria poderia explicar era certamente vasta, pois o paladar, o olfato, o tato, a visão e a audição eram resultados do comportamento atômico. O paladar era causado pelo contato direto entre os átomos das substâncias e os da boca; os sons eram gerados pelos átomos, calcando-se nos átomos do ar, que levavam essa impressão aos ouvidos; a visão e o olfato eram impressões semelhantes do ar; enquanto o tato era um mecanismo de contato como o paladar.

Mas isso não era tudo, o fogo e a alma humana eram ambos atômicos, cada qual constituído de átomos esféricos, em movimento muito rápido, impossíveis de se reunir. Na morte, os átomos da alma deixariam o corpo, mas o fariam muito lentamente, o que explicaria o fato do cabelo e das unhas de um cadáver continuarem a crescer durante certo tempo. Os átomos da alma teriam a função de gerar calor em um corpo e de torná-lo capaz de se mover; eles eram, de fato, uma força vital, a própria essência da vida. Mas, quando partissem, haveria a morte e nada mais restaria, pois os átomos da alma dispersariam-se, e tudo estaria acabado. Não haveria vida posterior, pois não haveria alma para experimentá-la.