Apresentar e discutir as mais recentes conclusões da neurociência sobre o funcionamento do cérebro, sua extraordinária plasticidade e como as experiências, entre as quais as histórias, a fantasia, a literatura infantil – especialmente nos primeiros anos de vida – são capazes de moldar o cérebro e promover o desenvolvimento cognitivo.
Nos dias atuais, com a tecnologia tão presente em nosso cotidiano, somos obrigados a aprender permanentemente: a cada três ou quatro anos somos levados a comprar novos computadores e, claro, cada nova máquina traz um perfil distinto, o que nos obriga a adaptar nosso conhecimento anterior, a nos familiarizar com as novidades, a desbravar os ícones desconhecidos, a buscar informação. Agora são as televisões, com tantas e tais surpresas e misteriosas funções, inclusive a imagem tridimensional, que certamente, para delas fazer um bom uso, teremos que nos debruçar sobre seus manuais de utilização. E assim acontece com cada novo produto que o avanço industrial nos oferece: todos chegam até nós com um detalhado “caderno” de instruções. Ora, o nosso cérebro é surpreendentemente mais sofisticado e capaz que qualquer computador, extraordinariamente mais complexo que qualquer aparelho de televisão, dele depende tudo o que somos e como somos, e poucas são as pessoas – inclusive entre aqueles que se dedicam à educação – que sentem curiosidade, necessidade ou desejo de conhecer o seu funcionamento, de buscar o seu “manual de utilização”.
“Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.
João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas.
Há algumas décadas, pouco sabíamos sobre o cérebro. Mas dos anos 1990 – a chamada “década do cérebro” – até agora, inúmeras pesquisas neurocientíficas têm esquadrinhado o cérebro e posto ao nosso alcance uma abordagem nova e, em minha opinião, muito animadora. Acredito que o mais importante conceito dessa nova abordagem, o conceito que nos oferece um norte para a utilização mais eficaz e, também, para a melhor e mais proveitosa manutenção desse fabuloso órgão, é justamente o conceito de plasticidade. Se um dia acreditamos que ao nascer trazíamos um cérebro pronto, geneticamente definido, hoje a ciência confirma o contrário: o cérebro é um órgão em constante e permanente mudança, passível de estar sempre em crescimento. Se algum dia na vida você se encolheu miudinho, se sentindo meio desprovido de inteligência, se um dia você já se achou assim meio burrinho, anime-se! (Aliás, não se preocupe, acho que todo mundo já se sentiu assim, algum dia.) As novas notícias da ciência trazem um alento para todos que já nos sentimos assim: “em termos de cérebro, a realidade nunca é absoluta. O que somos agora, já não seremos amanhã. O cérebro pode ser modelado. Tem a mesma propriedade da argila, do barro. É a bagagem de experiência de cada dia que vai modelá-lo. Tal como no texto de Guimarães Rosa, ainda não fomos terminados, podemos afinar ou desafinar. Não há destino preestabelecido. Nós somos o maestro. Não há forma definitiva. Nós somos o artesão de nós mesmos. Não é formidável?” (Fragmento extraído do livro Te cuida – Beleza, inteligência e saúde estão na mira, de minha autoria, Editora Vozes).
Não para fazer uma brincadeira com o primeiro parágrafo deste texto – porque em minha opinião um só livro ou estudo não pode ser visto como manual suficiente para o conhecimento do cérebro – mas sim por se tratar de uma obra das mais claras e esclarecedoras que li sobre o assunto, vou transcrever as palavras do próprio Dr. John J. Ratey, professor-adjunto da Escola Médica de Harvard, no livro “O Cérebro – Um guia para o usuário”, publicado aqui pela Objetiva.
“Não surpreende que a linguagem sobre o cérebro seja complexa, pois o cérebro constitui o mais complexo objeto em todo o universo. Há uma centena de bilhões de neurônios num único cérebro humano e um número cerca de dez vezes maior de outras células que não executam funções computacionais. Cada um desses neurônios está conectado a outros por projeções que lembram ramificações arborescentes conhecidas como axônios e dendritos, a maioria dos quais termina em minúsculas estruturas chamadas sinapses. As sinapses são atualmente o objeto de muitas pesquisas em curso sobre o cérebro, pois acredita-se que a maior parte da aprendizagem e do desenvolvimento ocorre no cérebro através do processo de fortalecimento ou enfraquecimento dessas conexões.Cada um da nossa centena de bilhões de neurônios pode ter qualquer quantidade entre 1 e 10.000 conexões sinápticas com outros neurônios. Isso significa que o número teórico de diferentes padrões de conexões possíveis num único cérebro é de cerca de 40 000 000 000 000 000 – 40 quatrilhões.” (p.18)
Mais adiante, John Ratey – assim como muitos outros neurocientistas contemporâneos – nos assegura: “A estrutura cerebral não é predeterminada e fixa. Podemos alterar o desenvolvimento em curso em nosso cérebro e, portanto, as nossas capacidades e aptidões.” (p. 31) E concluindo, lá no final do livro está o outro parágrafo que escolhi trazer para sua reflexão: “A espantosa plasticidade do cérebro humano permite-lhe renovar-se e aprender continuamente, não apenas através do estudo acadêmico, mas também através da experiência, do pensamento, da ação e da emoção. Tal como fazemos com os nossos músculos, também podemos fortalecer com exercícios os nossos trajetos neurais.Ou podemos deixá-los definhar. É aconselhável lembrar de novo um dos mais básicos princípios do cérebro: Use-o ou perca-o. Todas as vezes que decidimos resolver um problema de modo criativo ou refletimos sobre algo de uma nova maneira, remodelamos as conexões físicas em nosso cérebro. O cérebro tem que ser desafiado para se manter em boa forma, tal como os músculos, o coração e os pulmões devem ser deliberadamente exercitados para se tornarem mais flexíveis.”(p. 400)
Como me interesso também por educação nutricional, unindo os conhecimentos colhidos aqui e ali, cheguei a uma conclusão que me parece muito importante: nós fomos feitos para a ação. Se não nos mexemos e passamos os dias diante do computador ou da televisão, enferrujamos os músculos, vítimas do sedentarismo físico, conhecido pelo genérico nome “sedentarismo”. Mas precisamos estar atentos a duas outras vertentes do mesmo mal: o sedentarismo digestivo, consequência do excesso de refinados e da falta de fibras na alimentação. Sem o trabalho que lhe dão as fibras, o intestino diminui sua ação, fica sedentário e se torna uma porta aberta às doenças, conforme nos ensina a medicina chinesa. O terceiro e talvez o mais assustador sedentarismo, a meu ver, é o intelectual. A pessoa se entrega à passividade mental (menos ou nenhuma interação social, menos ou nenhuma leitura, menos ou nenhuma saída, viagem, etc.) e isso leva à deterioração precoce do cérebro. Ou, se prefere, veja como John Ratey se manifesta: “O exercício mental fortalece e até renova conexões neurais, mantendo o cérebro flexível e elástico. Durante anos os cientistas acreditaram que a perda irreversível de neurônios era inevitável na velhice. Entretanto, provas concretas indicam não existir uma grande perda. As imagens de varreduras de TEP (Tomografia por Emissão de Pósitrons) mostram que os lobos frontais de um homem de 25 anos e de um de 75 anos estão dotados de idêntico brilho após o mesmo teste de memória. O declínio na velhice é primordialmente causado pela ausência de exercício mental.” (p. 399)
1 . Descreva, da melhor maneira que conseguir, inclusive com exemplos concretos, como você compreende a expressão “Use-o ou perca-o!”, escolhida pelos neurocientistas para definir nossa relação com o cérebro. Não se preocupe com o limite de linhas, tente ser convincente e preciso. (Ah! lembre-se que desafios são um excelente exercício para evitar o declínio mental.)
2 . Como um recreio, uma bela história:
AS MONJAS DE MANKATO
“A PLASTICIDADE DO CÉREBRO não só ajuda na recuperação, mas pode desempenhar um papel na prevenção de doenças cerebrais. Para ter prova disso, basta visitar a escola do mosteiro das irmãs de Notre Dame, na remota Mankato, Minnesota. Muitas freiras têm mais de 90 anos e um número surpreendente chega aos 100; em média, vivem muito mais do que as pessoas em geral. (...)
Instigadas por sua crença em que “mente desocupada é oficina do diabo”, as monjas desafiavam-se obstinadamente com testes de conhecimentos vocabulares, quebra-cabeças e debates sobre cuidados com a saúde. Realizavam seminários semanais sobre acontecimentos correntes e escreviam com frequência em seus diários. A irmã Marcella Zachman, tema de uma reportagem na revista Life em 1994, só parou de dar aulas na escola do mosteiro quando completou 97 anos. A irmã Mary Esther Boor, também apresentada na Life, ainda trabalhava na recepção aos 99 anos.
Snowdon, que examinou mais de 100 cérebros de monjas mortas, (...) apurou que as monjas que tinham obtido diplomas universitários, estavam lecionando na escola do mosteiro e continuavam na velhice a exercitar suas mentes, de forma constante, enfrentando novos desafios, viviam mais e resistiam melhor ao mal de Alzheimer do que as monjas que tinham níveis inferiores de educação formal e passavam a maior parte do tempo limpando os quartos ou preparando as refeições. A conclusão de Snowdon e a de outros cientistas que estudaram o envelhecimento do cérebro, é que qualquer atividade intelectualmente provocante estimulará o crescimento dendrítico, aumentando o número de conexões neurais no cérebro.”
Fragmento extraído de Ratey, John J. O cérebro – Um guia para o usuário. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
A história das monjas de Mankato me parece instigante e exemplar a respeito da plasticidade do cérebro. Tenho sempre a tendência a começar a me lembrar dos muitos escritores e intelectuais que vemos chegar, ou quase chegar, aos 100 anos, lúcidos e saudáveis, interagindo socialmente, viajando e produzindo, criando novas obras. Escreva um texto estabelecendo relações entre a história das monjas e a educação (incluindo tudo que discutimos até agora), sem esquecer de relacionar essa história com o tema do nosso curso.
3 . Do ponto de vista popular, como podemos interpretar o provérbio “mente desocupada é oficina do diabo”? E do ponto de vista da neurociência, podemos interpretar de outra forma? Qual?
1 . Espero que você escreva um texto claro e convincente, mostrando que precisamos manter nosso cérebro em permanente atividade, não apenas para favorecer nosso crescimento intelectual, mas também para manter nossa saúde mental. O cérebro está sempre se modificando e, a cada nova experiência, novas conexões neurais são produzidas, e um maior estoque de conexões é garantia de mais recursos, até mesmo diante de derrames e outras doenças debilitantes.
2 . Em 1982, coordenando um evento em homenagem aos 80 anos de Carlos Drummond de Andrade, tive a oportunidade de conhecer e entrevistar alguns de seus amigos mais próximos, todos mais ou menos com essa mesma idade. Lembro-me de ter ficado espantada com a vivacidade intelectual e até mesmo com a agilidade física de muitos deles, e comentei com meu marido: Intelectual envelhece diferente, não tenho dúvida. Era uma simples observação, provocada pelas surpresas que a vida nos oferece. Hoje a ciência confirma aquela minha intuição. Acho formidáveis as conclusões da neurociência sobre a plasticidade do cérebro: é a confirmação absoluta de que fomos programados para o desenvolvimento intelectual, para o estudo, para os desafios mentais, para a interação com o outro – excelente espaço de crescimento – e, sem dúvida, a leitura é uma forma privilegiada de interação, de diálogo. No seu texto, pense nessas questões e faça bom uso de suas experiências e observações.
3 . Do ponto de vista popular, “mente desocupada é oficina do diabo”, porque este, ao menor descuido, arma alguma estripulia, algum malfeito, alguma travessura meio fora de propósito. Do ponto de vista da neurociência, podemos interpretar que mente desocupada é espaço para o negativo, para o que não é bom, nem traz o bem; mente desocupada caminha ao revés, em vez de afinar desafina, atrai doenças, declínio mental, degeneração do cérebro.
Para você não ter mais qualquer dúvida acerca da plasticidade cerebral e do leque de possibilidades que ela descortina para todos nós – do ponto de vista da formação de uma criança e do papel que a leitura representa nesse processo – nada melhor que observar o campo semântico das expressões, verbos e substantivos utilizados pela neurocientista Marian Diamond em seu livro, ao se referir ao cérebro. O nome do livro, numa referência ao aspecto físico dos neurônios – que se assemelham a pequenas árvores em desenhos de crianças – é “Árvores maravilhosas da mente – Como cuidar da inteligência, da criatividade e das emoções do seu filho do nascimento até a adolescência”, da Editora Campus. Ainda no prefácio, encontramos: “Gostaríamos de difundir a pesquisa de como a experiência molda o cérebro da criança e influencia o seu futuro”. A introdução traz o seguinte título: “A experiência é a maior escultora”. E nela podemos ler: “No passado via-se o cérebro da criança como algo estático e imutável. Nos dias de hoje, especialistas o veem como um órgão altamente dinâmico, que é alimentado por estímulos e experiências e responde por meio do surgimento de florestas de neurônios.” Mais adiante, novas afirmações sobre a plasticidade durante toda a vida: “A mensagem que vem à tona é clara: o cérebro com sua estrutura complexa e seu potencial ilimitado é um órgão em constante mudança, que pode ser moldado por nossa experiência durante a infância e durante a vida.” E, diante do que sabe, do que vem testemunhando em suas pesquisas, a autora confessa seu desejo de que os pais mudem o seu modo de ver a infância: “Gostaríamos ainda que compreendessem o desenvolvimento cerebral e sua flexibilidade contínua e que modificassem sua rotina e a de seus filhos.”
Como você vê, embora no espaço de nosso curso seja inviável um aprofundamento nas inúmeras pesquisas da neurociência, algumas de suas conclusões já nos bastam para que possamos reconhecer o cérebro em seu extraordinário potencial, em seu fabuloso processo de aprendizagem – desde o início da vida – e reconhecer, em princípio, a nossa responsabilidade pelo que somos. E também reconhecer a nossa responsabilidade, enquanto pais e enquanto educadores, pelos estímulos e oportunidades enriquecedoras que oferecemos, ou que deixamos de oferecer, às crianças e aos bebês. O bacana nisso tudo é saber que nada é definitivo, saber que em se tratando de cérebro, temos sempre a liberdade de refazer o mapa de nossa vida ou, mais precisamente, o mapa de nossa capacidade cognitiva. O cérebro é uma construção de cada dia, é plástico e está sempre se reconfigurando – desde o momento em que começa a se formar, no útero de nossa mãe, até o fim de nossa vida. É importante saber também que ele precisa ser alimentado permanentemente com desafios, exercícios e novas aprendizagens, pois como afirmam os cientistas, “o cérebro prospera na novidade”.
No primeiro texto desta aula, falamos da plasticidade do cérebro que é nosso passaporte para a aprendizagem e a mudança durante toda a vida, mas as pesquisas atuais sobre o cérebro das crianças e, mais precisamente, dos bebês, me parecem essenciais em nosso curso. Isso porque são elas que alicerçam a nova relação com os livros e a leitura que se proporciona hoje, às crianças e aos bebês – como veremos a seguir – em várias partes do mundo e aqui mesmo, no Brasil. Portanto, se você estava meio aflito(a), sem perceber o porquê de desbravar estudos de neurociência e, agora, este passeio sobre o cérebro dos bebês, em nosso curso, fique tranquilo(a), esses conhecimentos não são desvios de nosso caminho, são a terraplenagem para a consistência do caminho. É exatamente por eles – por esses conhecimentos – que precisamos transitar, para reconhecer a capital importância dos livros e das histórias em nossas salas de aula, nas turmas de educação infantil, nas creches e onde quer que haja bebês e crianças.
Veja, por exemplo, o que diz Alison Gopnik, professora de Psicologia na Universidade da Califórnia e pesquisadora no Instituto de Desenvolvimento Humano e no Instituto de Ciências Cognitivas e Cerebrais, no seu livro “O bebê filósofo” (The philosophical baby), ainda não traduzido no Brasil: “Quanto mais novas as crianças, mais misteriosas são. (...) Os bebês não conseguem andar nem falar e mesmo os menores apenas engatinham e, no entanto, a ciência, e de fato também o senso comum, diz-nos que nesses primeiros anos estão a aprender mais coisas do que alguma vez voltarão a fazer nas suas vidas. (...) Tanto a pesquisa científica como o pensamento filosófico atuais iluminaram e aprofundaram o mistério. Nos últimos trinta anos, houve uma revolução na nossa compreensão científica dos bebês e das crianças. (...) Na realidade, os psicólogos e os neurocientistas descobriram que os bebês não apenas aprendem mais, como imaginam mais, interessam-se mais e experimentam mais do que alguma vez pensáramos ser possível. Em certos aspectos, as crianças mais novas são na realidade mais espertas, mais imaginativas, mais interessadas e mesmo mais conscientes do que os adultos.” (Gopnik, Alison. O bebê filósofo. Trad. Pedro Vidal. Portugal:Círculo de Leitores, março de 2010).
Pesquisadores do cérebro investigam a capacidade cerebral que os bebês têm ao vir ao mundo. Por meio de técnicas de imagem, eles concluem que várias áreas cerebrais já processam diferentes tipos de informação nos recém-nascidos. Assim, o lobo temporal esquerdo do córtex cerebral já reage à fala. (...)
A acuidade visual melhora continuamente durante os primeiros meses de vida e atinge o nível da do adulto em bebês de cerca de seis meses. Mas já no final do 4º mês eles reconhecem os principais aspectos do mundo ao seu redor e coordenam no cérebro as informações visuais de ambos os olhos. Provavelmente as ligações sinápticas aumentam com tamanha rapidez até o 6º mês porque até então o bebê já atingiu a acuidade visual total. Agora o aprendizado visual pode começar em grande estilo!”
Sabina Pauen, A mente do bebê, nº 3. Série especial da revista Mente & Cérebro.
Em relação à plasticidade do cérebro, precisamos saber também que, assim como formamos novas conexões neuronais durante toda a vida, nosso cérebro também apaga, constantemente, aquelas conexões que lhe parecem desnecessárias. Permanecem e se tornam mais consistentes os percursos que frequentemente percorremos, as rotas que deixamos de usar são apagadas. Por um lado, isso pode significar maior eficiência (em um caminho mais conhecido, podemos ir mais rápidos, com mais segurança), mas, por outro lado, também significa a perda de novas opções. Pode significar, se não uma rotina esclerosante, pelo menos uma menor criatividade na nossa relação com o mundo exterior. Quem de nós não ouviu, ditada pelo senso comum, essa crença: As crianças são muito mais criativas!
Veja a posição da ciência sobre o assunto, acompanhando as palavras de Alison Gopnik: “Os cérebros dos bebês parecem possuir qualidades particulares que os tornam especialmente bem preparados para a imaginação e a aprendizagem. Os cérebros dos bebês estão na realidade interligados de uma forma mais elevada do que o cérebro dos adultos; existem mais vias neuronais à disposição dos bebês do que dos adultos. À medida que envelhecemos e que ganhamos mais experiência, os nossos cérebros ‘cortam’ os caminhos mais tênues, menos usados, e fortalecem aqueles que são utilizados com maior frequência. (...) No cérebro adulto, essas pequenas ruas foram substituídas por menos, mas mais eficientes, avenidas neuronais, capazes de muito mais trânsito. Os jovens cérebros são também muito mais elásticos e flexíveis – mudam com muito maior facilidade. Mas são muito menos eficientes; não trabalham com tanta rapidez ou eficácia.”
1 . Abaixo, reuni pequenos comentários que enriquecem nossas reflexões sobre a plasticidade do cérebro e, especialmente, sobre o cérebro dos bebês. Leia todos eles e prepare uma apresentação com pelo menos três itens, desenvolvendo cada um deles, tendo como tema:
“Richard Coss explica resumidamente: ‘Um animal só possui a inteligência de que necessita.’ Uma abelha-babá que fica confinada à colmeia não precisa ter muitas terminações espinhosas em forma de guarda-chuva, nem um córtex espesso, nem uma ‘mente’ tão inteligente quanto uma abelha operária que voa pelos campos. Assim, a abelha-babá tem o córtex menos desenvolvido.
Diamond, Marian e Hopson, Janet. Árvores maravilhosas da mente. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 36.
“Não importa o modo como as formas das terminações do neurônio agem. É óbvio que em todos os seres, de insetos aos homens, o córtex cerebral (ou seu equivalente) é repleto de florestas com árvores espinhosas, cada uma contendo um milhão de terminações diferentes. Elas vibram e se contraem em resposta a informações recebidas, e o próprio processo da transmissão altera suas formas. De algum modo a pulsação e a vibração das árvores neurais regulam o aprendizado e a memória. Portanto, quanto mais estimulante o ambiente, mais frondosa fica essa árvore.”
Diamond, Marian e Hopson, Janet. Opus cit., p. 36.
“... a natureza programa certas partes do cérebro para ficarem aguçadas quando – e somente quando – a experiência requisitar. Uma pessoa é muito mais inteligente, é claro, do que uma abelha e todo cérebro humano normal é maior e mais retorcido. Aparentemente sempre há espaço sobrando e não barreiras ao que podemos aprender e absorver. Sempre achamos graça daquela charge em que um aluno levanta o dedo e diz ao professor: ‘Desculpe-me, mestre, mas meu cérebro está cheio!’ Rimos porque sabemos, através da experiência, que nossa capacidade é ilimitada e duradoura. Por outro lado, assim como nossos músculos estão programados para diminuírem e enfraquecerem por falta de treino, as árvores de dendritos e suas terminações murcharão, e o córtex ficará mais fino por falta de atividade mental. O conservadorismo da natureza é guiado pela sobrevivência e feito para poupar energia nos maus momentos. Se não fizermos nada nos bons momentos além de perambular, ver televisão e comer, o mesmo mecanismo conservador nos transformará em gordos estúpidos!”
Diamond, Marian e Hopson, Janet. Op. cit., p. 36, 37.
“Uma má alimentação pode ameaçar o desenvolvimento mental da criança, mas se ela passar a se alimentar bem e tiver um enriquecimento social e educacional antes dos três anos de idade, o crescimento e o amadurecimento de seu cérebro pode, praticamente, alcançar o de uma criança normal. Os pesquisadores se surpreenderam ao descobrir que alguns problemas de aprendizado em uma criança mal alimentada não surgem a partir de um dano cerebral e sim da falta de estímulos. (...) Segundo Ernesto Pollitt, professor de Pediatria da Universidade da Califórnia, essa falta de estímulos ambientais entre o primeiro e o terceiro anos de vida é o maior responsável pelo baixo nível de QI e pela dificuldade de aprender.”
Diamond, Marian e Hopson, Janet. Op. cit. p. 85.
“Jin Trelease, autor do livro ‘The Read-Aloud Handbook’, diz: ‘Se a criança é capaz de escutar o que falamos para ela, também é capaz de compreender o que lemos.’ Trelease cita uma série de estudos que mostram que a leitura em voz alta fornece conhecimentos para a criança que vão além do ambiente cotidiano, aumenta o vocabulário e a compreensão, estimula a imaginação, favorece o crescimento emocional e o de valores através das mensagens implícitas nas histórias, une pais e filhos e estimula o prazer de ler. Mesmo para um bebê bem novo que olhe um livro sem palavras, a experiência o ajuda a focalizar os olhos, a distinguir cores e a analisar os ritmos da fala em sua língua materna. No entanto, acima de tudo, é a hora de pegar o bebê no colo, de falar com ele e de lhe dar atenção.
Diamond, Marian e Hopson, Janet. Op. cit., p. 130, 131.
1 . Nos pequenos comentários, temos várias opções de tópicos que
podem ser usados numa apresentação a respeito do tema. Mas há
alguns que me parecem prioritários e não podem ficar esquecidos:
E já que as histórias são tão importantes para o ser humano, e não apenas para as crianças, como se fosse um bate-papo informal, vou lhe contar uma história: CASA DE AVÓS
A casa é assim uma espécie de mundo dos livros: eles passeiam sobre mesas e braços de poltronas e também vão cobrindo as paredes, em estantes até o teto. A menina, LETÍCIA, tem apenas 2 anos e meio, e quase todos os dias passa duas ou três horas ali. Ela também tem muitos livros, e por isso a avó desocupou uma prateleira, a dez centímetros do chão e, naquele espaço, a menina tem meio metro de belos e coloridos livros, sempre à sua disposição.
Um dia desses, a menina sentou-se no chão, abriu um de seus livros e o deixou de pé, encostado à estante, aberto. E parecia ter se envolvido em outra brincadeira. O avô, ao passar por ali e ver o livro aberto, abaixou-se com a intenção de fechá-lo e recolocá-lo em seu lugar. Mas Letícia, do outro lado da sala, ligadíssima, captou o gesto e, em disparada, veio gritando: “Não tira da página! Não tira da página!”
Outro dia, assistindo ao DVD de André Rieu, “In Wonderland”, que apresenta e teatraliza músicas-tema de várias histórias da Disney que ela conhece, olhou para o avô e pediu: “Pega o teclado, vovô, não tenho nenhum instrumento para acompanhar a música!”
E agora, no Salão do Livro da FNLIJ, sentadinha no chão, ouvindo feito gente grande a palestra de um ilustrador, quando Edna, amiga da avó, lhe perguntou por que queria ficar ali, respondeu: “Porque quero ouvir a conversa dele!” E, mais tarde, enquanto comia um pão de queijo, o alto-falante anunciou o lançamento de um livro. Ela levantou o dedinho e disse: “Oh! Estão chamando, eu tenho que ir lá!” E quando a avó lhe disse: “Letícia, olha quantos livros lindos... aqui é o meu mundo!”, ela, sem pestanejar, respondeu: “O meu também!”
Já sei, você não está acreditando ou está achando que me enganei quanto à idade da menina. Nada disso! Agora, ela acabou de fazer 2 anos e dez meses. Sua linguagem e seu vocabulário são, muitas vezes, surpreendentes. Mas tudo isso – não tenha dúvida – é apenas o resultado de se começar a pôr livros nas mãos de uma criança por volta dos 3 meses de idade e de se conversar com ela sobre as imagens e histórias dos livros, permanentemente; de oferecer a ela os DVDs do Bebê Einstein e os videoclipes da Turma do Cocoricó por volta dos 4 meses; aulas de natação a partir dos 5; aos 7 meses acompanhar com ela o filme “Fantasia”, da Disney (músicas clássicas e desenhos animados), que durante meses era o seu preferido; teatros e shows do “Palavra Cantada” e outros, desde 1 ano de idade; desenhos animados no cinema a partir de 1 ano e meio; instrumentos musicais, desde alguns meses: piano, xilofone, tambores vários, bongô, apitos, flautas e até uma bateria infantil, antes do atual teclado, que mede 1 metro de extensão e onde ela explora os vários sons, a ponto de um dia desses fazer um barulho com a boca, soprando sobre o braço, e dizer: “Oh! Som de tuba!”
Letícia não é nenhum prodígio; ela é, aos meus olhos, a confirmação do que leio nos livros de neurociência: “A experiência é a maior escultora!”
O tempo passa, mas como disse Saramago, “sentimentalmente somos habitados por uma memória” e ali estão vivas, antigas e fortes emoções. Fiz o teste de gravidez e o resultado POSITIVO foi uma grande alegria, isso há mais de 30 anos. Antes mesmo que eu pudesse sair para comprar uma primeira roupinha de bebê, um vendedor de livros foi ao colégio em que eu trabalhava e comprei uma coleção de sete volumes: ali estão muitos contos de fada, príncipes, princesas, duendes, bruxas e outros seres encantados que povoaram a infância de minhas filhas. Simbolicamente, estes foram os primeiros livros da mais velha, comprados bem antes de seu nascimento. Mas antes desses, chegaram às suas mãos aqueles pequeninos, que aos 3 meses qualquer bebê já segura. Roeram livros, sim, ambas. Eles estiveram sempre presentes, e pude testemunhar o prazer da leitura como uma experiência quase que natural em suas vidas. Pude testemunhar o domínio da língua se fazendo sem traumas, no permanente e prazeroso convívio com os textos: afinal, aprende-se a escrever convivendo com a escrita.
Assim, nas palestras, quando me perguntam em que momento se deve começar a oferecer livros às crianças, não tenho dúvidas. Veja a minha resposta a essa pergunta, em uma palestra ainda no século passado, que se encontra registrada em meu livro “Leitura & Colheita – Livros, leitura e formação de leitores”, Editora Vozes, 2002: “Assim que abrissem os olhos na maternidade. Todos, pais, avós, tios, padrinhos, não desfilam os próprios rostos diante dos bebezinhos, se apresentando: ‘Olha aqui o papai!’, ‘Olha aqui a vovó!’, ‘Olha aqui o titio!’ etc. Pois então: ‘Olha aqui que coisa legal, que livro lindo, que colorido fantástico, que imagens saltando das páginas, etc.’ Eu me atrasei um pouco: comecei a colocar livros no berço das minhas filhas quando elas começaram a segurar aqueles brinquedinhos de borracha, ou seja, por volta dos três ou quatro meses. Bem, deixando de lado a brincadeira, acho que os livros e, principalmente as histórias, devem entrar na vida das crianças o quanto antes. Muito antes de se pensar em escola. Assim que se pensar em comprar algum brinquedo para o bebê, pode-se comprar um livro de histórias para ele. E quanto mais conversar com a criança, contando, lendo, brincando com os sons, lendo poeminhas rimados, mais você estará oferecendo desafios para o crescimento intelectual de seu filhote.”
Minhas certezas, nessa época, tinham pouco fundamento científico; eram pautadas na observação, na minha experiência pessoal e na de minhas filhas, e no meu radical encantamento pelas histórias. Quanto à observação, eu a comecei a fazer por volta dos 15 anos: como fui caçula temporã, numa família de oito irmãos, com essa idade eu tinha sobrinhos de todos os tamanhos, de bebês aos adolescentes de 13 anos. E comecei a observar que aqueles que tinham livros e revistinhas em casa, não apenas não rasgavam os meus livros, como eram capazes de permanecer mais tempo concentrados, tinham mais atenção e um desempenho linguístico melhor.
Em 2005 fiz uma palestra por ocasião da Feira do Livro de Porto Alegre, RS, e tive a oportunidade de assistir a uma palestra de um dos coordenadores da Fundação Lesen (Ler, em alemão. www.stiftunglesen.de), de Mainz, Alemanha. E entre os vários projetos por essa fundação desenvolvidos para estimular a leitura entre crianças e jovens, o que mais me impressionou foi aquele que – com vistas a atingir as crianças desde o nascimento – distribui às futuras mamães, nos postos de atendimento às gestantes, pequenos livros para que elas os leiam com os seus bebês. Ao mesmo tempo, elas são orientadas no sentido de fazer dessa prática um momento de conversa e aconchego com o filho. Saí da palestra fascinada! E pensando em como se pode criar, com certeza, uma nova geração.
Os livros de neurociência que venho lendo nessa última década – como você pôde ver – têm me trazido a certeza de que minhas observações estavam corretas. E, no atual momento, vemos outros países, ONGs e promotores de leitura voltarem sua atenção para as crianças de menos de 3 anos, ou como normalmente as chamamos: bebês. Agora assisti a uma palestra – promovida pelo “Leitura em Debate” e realizada no Salão do Livro da FNLIJ – cujo título não deixa qualquer dúvida: “O espaço da leitura para bebês, crianças e jovens”. Nessa palestra falaram o Sr. Sang Sool Kim, da Biblioteca Nacional Coreana para Crianças e Jovens, da Coreia do Sul, e a Sra. Ingrid Bom, representante da IFLA - Federação Internacional de Associações de Bibliotecas e Instituições, na Holanda. Assim como ocorre na Fundação Lesen (Ler), da Alemanha, também na Holanda um dos projetos desenvolvidos atinge diretamente as mães nos Postos de Saúde. Para se ter uma ideia do espírito que norteia a ação de fomento à leitura, por lá, vale dar uma passadinha pelo site da IFLA (www.ifla.org), e uma olhada nos títulos de eventos e conferências: “O Dia dos Bebês”, “O Dia dos Livros”, “Noite de Histórias”, “A necessidade da linguagem e da promoção da leitura na infância”, “Um programa nacional para melhorar a alfabetização e a saúde em crianças, através da leitura em voz alta”, “Nascido para ler”, “Outubro, está chovendo livros”, “As jornadas nacionais de leitura”, “Ganhar ou perder uma geração”.
Como você vê, o que vem acontecendo nesses países, Coreia do Sul, Alemanha, Holanda, entre outros não citados aqui, parece estar diretamente relacionado a esse último título de uma das conferências. Colocar ou não livros nas mãos das crianças – no momento em que o seu cérebro está programado para o desenvolvimento máximo, conforme atestam inúmeros estudos sobre o período que vai do nascimento até os cinco anos – parece ser mesmo fazer uma opção política: Ganhar ou perder uma geração!
1 . Não sei se os dados apresentados a você foram suficientes para essa observação, mas eu gostaria de chamar a sua atenção para uma característica comum aos projetos de Coreia, Alemanha e Holanda: não é por acaso que em dois desses países os projetos busquem atingir as mães ou futuras mamães nos postos de saúde. Na Coreia são as escolas que contam com a efetiva participação de pais e familiares. Nos três países a preocupação maior é oferecer essa experiência – o contato com os livros e o estímulo a que as mães conversem com os filhos – justamente à população mais carente. Observe que a elite sempre soube inserir os seus filhos na cultura letrada. Nas melhores escolas, hoje, as crianças do maternal escolhem livros na biblioteca na quinta-feira e ficam com eles até a terça da semana seguinte, para ler com os pais.
- Assim, o desafio de hoje é você investigar na internet, no Google ou em outra ferramenta de busca, essas três palavras “bebês projetos leitura” e ler, no site da “revistaescola” ou no site da “educarparacrescer” notícias sobre seis projetos voltados à leitura na primeira infância, no Brasil. Depois, avalie o contingente beneficiado, a classe social que atingem, compare com a população brasileira, com a dimensão do país, relacione com tudo que leu sobre o cérebro dos bebês e com a sua experiência anterior, e escreva um texto expressando a sua visão sobre a realidade brasileira, em relação à primeira infância e aos estímulos oferecidos a ela, a partir do tema:
“GANHAR OU PERDER UMA GERAÇÃO”
2 . Agora, leia os fragmentos abaixo e enumere-os, fazendo a correlação com os tópicos que julgar mais apropriados. Depois, escreva um pequeno texto (algo em torno de 5 a 10 linhas), com as suas palavras, sobre cada tópico.
1. As experiências e a estimulação ambiental modelam o cérebro
2. Graças à plasticidade do cérebro, ser leitor pode ser garantia de saúde na terceira idade
3. Janelas de oportunidades: do zero aos cinco anos, potencial máximo para as descobertas e a aprendizagem
4. A interação com o outro significa desenvolvimento cognitivo e também apoio emocional
5. Diálogo e histórias promovem desenvolvimento linguístico e inteligência social
6. O cérebro prospera na novidade e, assim, alimentar nossa curiosidade significa manter o cérebro saudável
[ ] Sigmund Freud, em Três ensaios sobre a sexualidade, relata o seguinte diálogo, ocorrido em Viena, em 1905:
Uma criança pede à tia:
“ – Titia, diga-me alguma coisa, estou com medo porque está escuro”.
“ – O que isso adiantaria, já que você não pode me ver?”
“ – Não faz mal, quando alguém fala fica claro.”
Freud, Sigmund. Três ensaios sobre a sexualidade,in Obra Completa.Rio de Janeiro: Imago, 1972.
[ ] A Dra. Marian Diamond, da Universidade da Califórnia, realizou uma série de experiências com filhotes de ratos em ambientes enriquecidos ou não. O grupo controle foi colocado em uma gaiola grande, sem brinquedos; outros dois grupos foram colocados em gaiola grande com brinquedos e gaiola pequena sem brinquedos. “Depois de duas semanas na gaiola enriquecida com brinquedos, uma determinada região do cérebro relacionada à integração de informações sensoriais, ficou 16% mais espessa nos filhotes do ambiente enriquecido – o maior crescimento cerebral do que o de qualquer outra região do cérebro vista em qualquer idade”. Pelo resultado observado, a pesquisadora acredita que um ambiente enriquecido também estimula o cérebro de uma criança pequena.
Extraído de O clube do livro – Ser leitor: que diferença faz?, Ed. Globo, p. 128.
[ ] “Não se trata simplesmente de uma questão do número de palavras que não se ouviu ou não se aprendeu. Se não se ouvem as palavras, não se aprendem os conceitos. Quando não estamos familiarizados com as formas sintáticas, sabemos menos da relação dos acontecimentos em uma história. Uma pessoa que desconhece as formas narrativas (ou seja, desconhece a literatura) tem menos capacidade para deduzir e fazer previsões. Se a tradição cultural e os sentimentos das outras pessoas nunca foram experimentados, compreender os sentimentos dos que nos rodeiam é mais difícil.”
Wolf, Marianne. Cómo aprendemos a leer. Barcelona: Ediciones B, 2008. Trad. Livre.
[ ] “Na melhor das hipóteses, a viagem não é para ver o Taj Mahal ou a Muralha da China, é antes para tentar absorver toda a textura de uma cultura desconhecida e os viajantes apontam
frequentemente os Acontecimentos casuais, inesperados, como os mais informativos e vívidos – um bom viajante mantém-se aberto à mudança. (...) Quando viajamos, reparamos nas pequenas coisas que nos nossos países consideraríamos banais: a vida cotidiana dos japoneses ser ferozmente ascética, ou o à vontade com que as pessoas se entreolham num café francês, ou até mesmo as entonações sutis de uma linguagem desconhecida. (...) É um lugar-comum dizer-se que viajar abre a mente, mas isso pode ser literalmente verdade. Quando viajamos, voltamos ao amplo espaço da curiosidade infantil e descobrimos coisas novas sobre nós mesmos e sobre os outros.
Gopnik, Alison. O bebê filósofo. Portugal: Círculo de Leitores, 2010.
[ ] “A educação é crucial para o avanço de um país – e, quanto antes chegar às pessoas, maior será o seu efeito e mais barato ela custará. Basta dizer que tentar sedimentar num adolescente o tipo de conhecimento que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes sai algo como 60% mais caro. Pior ainda: nem sempre o aprendizado tardio é tão eficiente. Não me refiro aqui apenas às habilidades cognitivas convencionais, mas a um conjunto de capacidades que deveriam ser lapidadas em todas as crianças desde os 3, 4 anos de vida.”
James Heckman, prêmio Nobel de Economia - 2000, em entrevista à Veja, 10/06/2009.
“Arnold Scheibel, diretor do Brain Research Institute, afirma que o cérebro literalmente prospera na novidade a fim de sobreviver.(...) Por isso as pessoas devem não só permanecer ativas como também buscar novos horizontes. Resumindo: Quanto maior a reserva de células cerebrais, em decorrência de uma vida inteira de utilização do cérebro, maior a possibilidade de o declínio intelectual ocorrer muito mais tarde do que em uma pessoa que jamais exercitou o cérebro vigorosamente. Os especialistas gostam de lançar mão de uma analogia: o cérebro é como um músculo – se o usarmos, ele cresce e se expande; se não o utilizarmos, ele se atrofia. Assim, a educação torna o cérebro mais resistente à deterioração e à doença, pois, para conquistar seus diplomas, as pessoas tendem a exercitar mais o cérebro, construindo um cérebro mais ativo, resistente e complexo.”
Carper, Jean. Seu cérebro milagroso. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
1 . “ GANHAR OU PERDER UMA GERAÇÃO” – Estamos vendo que alguns países parecem estar investindo na primeira infância, certamente levando em conta o que as pesquisas da neurociência vêm apontando a respeito do cérebro. Você deve ter acompanhado, pela internet, notícias de alguns projetos sendo realizados no Brasil. Penso que eles podem atingir, sim, uma pequena parcela d a população brasileira que deles mais carece.
Quanto ao seu texto, não se trata de fechar questão: tanto você pode acreditar que estamos bem, quanto você pode defender que falta muito, ainda, para que possamos oferecer, às classes populares, o estímulo às crianças que poderia, realmente, representar a possibilidade de uma nova geração. O objetivo do trabalho é refletir sobre o assunto, tomar uma posição e argumentar para defendê-la, qualquer que seja ela.
2 . A numeração dos pequenos fragmentos segue, do primeiro texto ao último, a seguinte ordem: 4, 1, 5, 6, 3, 2.
Os textos escritos... são a sua compreensão a respeito dos tópicos, uma versão com as suas palavras, condizente com os tópicos e com a sua experiência, ainda que distante dos fragmentos lidos.
FORTALECENDO AS CONEXÕES NEURAIS:
(Texto para simples leitura)
“Os cérebros dos bebês parecem possuir qualidades especiais que os tornam particularmente bem preparados para a imaginação e a aprendizagem. Os cérebros dos bebês estão na realidade interligados de uma forma mais elevada do que o cérebro dos adultos; existem mais vias neuronais à disposição dos bebês do que dos adultos. À medida que envelhecemos e que ganhamos mais experiência, os nossos cérebro ‘cortam’ os caminhos mais tênues, menos usados e fortalecem aqueles que são utilizados com maior frequência.(...) No cérebro adulto, essas pequenas ruas foram substituídas por menos, mas mais eficientes, avenidas neurais, capazes de muito mais trânsito. Os jovens cérebros são também muito mais elásticos e flexíveis – mudam com muito maior facilidade. Mas são muito menos eficientes; não trabalham com tanta rapidez ou eficácia.(...) O córtex pré-frontal é uma das últimas partes do cérebro a amadurecer. (...) ...quando se trata de imaginação e aprendizagem, a imaturidade pré-frontal permite às crianças serem superadultos. O córtex pré-frontal está especialmente envolvido na ‘inibição’.
Mas, como veremos, a inibição tem um contra, se estivermos sobretudo interessados na imaginação e na aprendizagem. Para sermos imaginativos, temos de considerar o máximo de possibilidades que conseguirmos, mesmo que sejam fantásticas e sem precedentes (talvez o armário funcione melhor sem aquelas gavetas todas). Na aprendizagem, queremos manter-nos abertos a todas as coisas que acabem por se revelar verdadeiras (talvez que a partícula de poeira contenha o segredo do universo). A ausência de um forte controle pré-frontal poderá, na realidade, constituir uma vantagem da criança.
Num outro sentido, o córtex pré-frontal é a parte mais ativa do cérebro durante a infância, muda constantemente ao longo desses anos e a sua forma final depende muito da experiência infantil. Os poderes da imaginação e da aprendizagem durante a infância fornecem-nos a informação que nós, adultos, usamos para planejar e controlar o nosso comportamento de modo inteligente. Na realidade, existem algumas provas de que um QI elevado está correlacionado com uma maturidade tardia e com lobos frontais mais plásticos. Mantermos os nossos espíritos abertos durante mais tempo poderá fazer parte daquilo que nos torna mais espertos.
Gopnik, Alison. O bebê filósofo. Portugal: Círculo de Leitores, 2010.