Redação de textos acadêmicos

Informações gerais

Meta

Apresentar os conceitos de gêneros e tipos textuais

Objetivos:

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

  1. Identificar exigências macro e microestruturais dos gêneros e tipos textuais;
  2. Distinguir os conceitos de gêneros e tipos textuais.

Ler completa o homem.
Sir Francis Bacon (1562-1626)

1. Iniciando o percurso



Ilustração: http://www.sxc.hu/pic/s/r/ro/rolve/1115824_laptop_keyboard_2.jpg

Figura 1: Escrever bem é um desafio que percorre toda a nossa vida acadêmica e profissional.

Olá! Seja bem-vindo ao nosso curso de Redação de Textos Acadêmicos! Estamos agora começando um percurso de leituras, releituras e escritas dos diversos gêneros textuais que fazem parte da vida de quem estuda, dá aulas ou simplesmente quer melhorar sua produção escrita. Assim, nesta disciplina você ganhará intimidade com o texto acadêmico e mais segurança para trabalhar com ele.

É importante que você perceba que o domínio das habilidades de comunicação escrita é fundamental para seu sucesso na universidade e no mercado de trabalho. Ao corrigir uma prova, um professor não avalia apenas o conteúdo que o aluno pôs no papel, mas a forma como isso foi feito: se o texto foi redigido com clareza, coesão, coerência... Se pensarmos bem, aliás, veremos que é só ao ganhar forma que o conteúdo passa a existir diante do leitor. Além disso, ao final de muitos cursos de graduação ou pós-graduação, é preciso elaborar um trabalho de conclusão, apresentando um estudo um pouco mais longo e detalhado sobre tema de seu interesse. Muitos alunos, inclusive, temem essa etapa do curso porque não se familiarizaram com a redação desse gênero de texto.

Da mesma forma, no mercado de trabalho, formulários, relatórios e e-mails circulam o tempo todo, exigindo que o funcionário esteja preparado para se comunicar com eficiência por escrito em cada situação, atendendo às suas demandas específicas. Já professores, mais especificamente, são chamados a produzir textos e publicar com frequência, já que muito do seu currículo se constrói sobre esse tipo de atividade.

Por tudo isso, nesta disciplina, você travará contato com várias formas de textos acadêmicos, com foco nas particularidades de cada um deles. Além disso, em momentos oportunos, vamos discutir algumas questões gramaticais que podem incomodar quem escreve, dando ênfase sempre ao que é mais produtivo e recorrente na escrita universitária. O objetivo, no entanto, não é uma memorização chata e pouco prática. Afinal, basta consultar qualquer gramática ou site de busca para encontrar a explicação de determinada exceção ou ponto gramatical menos conhecido. Na era da informação, está mais bem preparado não quem acumula um número maior de dados, mas quem sabe manipulá-los, interpretá-los e apresentá-los de forma mais clara e eficiente. Assim, queremos que você seja um leitor e um redator cada vez mais eficiente e autônomo, capaz de encontrar, decodificar, utilizar e comunicar as informações de que precisa ou que lhe são solicitadas.

Então, mãos à obra?


Atividade 1

Observe os textos I, II e III, ao final desta atividade, e responda às perguntas subsequentes:

1.1. Apesar de todos esses textos falarem a respeito de um mesmo tema – cogumelos –, são bem diferentes entre si, pois foram produzidos em distintas situações, com objetivos próprios. Identifique, para cada um dos textos:

  1. a que categoria de textos ele pertence (propaganda, romance, receita, soneto, reportagem etc.)
  2. sua finalidade central;
  3. os principais leitores que se pretende alcançar.
Indicativo
modo verbal geralmente usado quando o falante vê como certa a ação expressa pelo verbo. Exemplo: Maria abriu a porta.
Subjuntivo
modo verbal geralmente usado quando o falante vê como hipotética a ação expressa pelo verbo. Exemplo: Talvez Maria abra a porta.
Imperativo
modo verbal geralmente usado quando o falante vê como uma ordem ou um pedido a ação expressa pelo verbo. Exemplo: Maria, abra a porta!

1.2. Diferentes categorias de texto apresentam a informação de maneiras distintas, a depender de sua finalidade (didática, informativa, persuasiva etc.). Isso faz com que as formas de lê-los sejam também diferentes, variando de acordo com os objetivos do leitor. Observe os textos II e III, por exemplo. Eles pressupõem formas semelhantes de leitura? O tipo de informação que seus respectivos leitores buscam é o mesmo? Justifique sua resposta.

1.3. Diferentes categorias de texto também apresentam escolhas linguísticas (palavras, construções sintáticas, pontuação etc.) distintas. Observe agora os textos I e IV. As formas verbais que neles aparecem estão sendo empregadas no mesmo modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo)? Relacione isso com as diferentes finalidades a que esses textos se propõem.

Texto I

Sopa de creme de cogumelos

INGREDIENTES
salsa;
1 kg de ossos para sopa;
2 folhas de louro;
1 colher (sopa) de grãos de pimenta;
125 g de cebolas pequenas e redondas;
400 g de cogumelos frescos;
30 g de manteiga;
sal e pimenta;
molho inglês;
4 colheres (sopa) de cherry;
200g de nata.

MODO DE PREPARO: Ferva os ossos, as folhas de louro, os grãos de pimenta e metade dos cogumelos lavados em 1/2 litro de água. Cozinhe em fogo brando durante 1/2 hora. Passe por um passador. Descasque as cebolas e pique-as fino. Limpe o resto dos cogumelos e passe-os por água corrente. Numa panela, frite a cebola em manteiga. Junte os cogumelos lavados e frite bem. Retire 1/3 dos cogumelos da panela e ponha-os de parte. Regue os cogumelos restantes com o caldo de carne passado (cerca de 1 litro) e cozinhe em fogo brando durante 15 minutos. Bata a sopa no liquidificador e tempere bem com sal, pimenta, molho inglês, cherry e nata. Acrescente os cogumelos fritos à sopa e aqueça-a bem. Polvilhe com salsa picada.

Texto II

Cogumelos atraem turistas de todo o país – fazenda mostra diversas formas de cultivo e ensina produtores

Turistas e produtores rurais de todo o país estão descobrindo a mais nova atração do Vale do Paraíba, a Fazenda Guirra, mais conhecida como a "Fazenda dos Cogumelos". Entre as maiores atrações do local, o cultivo de diversas qualidades de cogumelos atrai pela lucratividade, que representa mais do que o dobro do investido pelo produtor.

Os cogumelos são iguarias apreciadas pelos gourmets mais exigentes, como os franceses, italianos, americanos, chineses, e claro, japoneses. No Brasil, o consumo de cogumelos está ganhando espaço entre os restaurantes mais requintados. Para atender a demanda do mercado, produtores rurais estão abdicando de outras culturas e aprimorando-se na arte de cultivar cogumelos.

Na Guirra, os visitantes aprendem as técnicas necessárias para garantir uma boa produção com baixos investimentos. Além da teoria, eles aprendem na prática como montar estufas, inocular as toras de eucaliptos, desenvolver compostos para o cultivo de outros gêneros de cogumelos, além de aproveitar os resíduos em hortas orgânicas.

Os cursos acontecem nos finais de semana e reúnem grupos de 60 a 70 pessoas. Segundo o proprietário da fazenda e zootecnista, Carlos Abe, que ministra os cursos, o cultivo do cogumelo é atraente devido ao baixo investimento e à lucratividade.

O shiitake, por exemplo, desenvolve-se em toras de eucaliptos. Cada tora produz praticamente 1 quilo do cogumelo e exige um investimento na ordem de R$ 8,00 cada. No mercado, o quilo do produto é negociado a R$ 17 e repassado aos consumidores por até R$ 30.

(...)

Por mês, a Fazenda Guirra exporta duas toneladas de cogumelos para o Japão. Produtores da região do Vale do Paraíba e de outros estados do país, que já passaram pelo local, já estão cultivando e comercializando os cogumelos – alguns deles também exportam para outros países.


(...)


Fonte: http://www.unifenas.br/pesquisa/revistas/download/ArtigosRev2_99/pag169-172.pdf

Texto IV

Doenças fúngicas e fungos competidores em cogumelos comestíveis do gênero agaricus

Leila Nakati Coutinho

Os cogumelos comestíveis, apreciados em muitas dietas europeias e orientais, vêm crescendo de importância nos últimos anos, já que o seu cultivo tem sido apontado como uma alternativa para incrementar a oferta de proteínas às populações de países em desenvolvimento e com alto índice de desnutrição. Sob o ponto de vista nutricional, considerando o elevado conteúdo proteico dos mesmos, isso possibilita reciclar economicamente certos resíduos agrícolas e agroindustriais. A cultura é considerada uma atividade de ambiente protegido e tem mostrado um notável incremento em diversos países.

A literatura especializada cita aproximadamente cerca de 2.000 espécies potencialmente comestíveis, porém apenas 25 delas são normalmente utilizadas na alimentação humana e um número ainda menor tem sido comercialmente cultivado. No Brasil, a primeira espécie cultivada foi o champignon de Paris [Agaricus bisporus (Lange) Singer]. Segundo a literatura nacional, o início do cultivo em escala comercial parece datar dos anos 50. Não existe uma documentação segura que permita localizar no tempo o início do cultivo dessa espécie no Brasil, sendo certo, no entanto, que a popularização de seu hábito alimentar na região centro-sul data de uns 40 anos.

Ao que tudo indica, quem primeiro deu início a estudos sobre o assunto no âmbito da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, tratando principalmente de adaptar a tecnologia estrangeira às nossas condições, foi Júlio Franco do Amaral que trabalhou no Instituto Biológico.

Embora recentemente a farta divulgação tenha despertado grande interesse pelo cogumelo comestível e já existam cultivos altamente especializados nos quais são empregados equipamentos sofisticados no Estado de São Paulo, a maior parte dos cultivos são ainda hoje rudimentares e conduzidos por famílias chinesas provenientes de Taiwan. Os métodos de plantio mais frequentemente utilizados são resultado de uma experiência herdada por muitas gerações, porém destituídos de aprimoramento técnico em decorrência da falta de conhecimentos científicos mais aprofundados.

(...)

Confira as suas respostas


2. Conhecendo os gêneros textuais



Fonte (vegetais): www.sxc.hu/pic/m/t/to/toutouke/1234596_vegetables.jpg

Fonte (estetoscópio): www.sxc.hu/pic/m/b/ba/barky/1080262_stethoscope_2.jpg

Fonte (jornal): www.sxc.hu/pic/m/l/lu/lusi/1102355_my_daily.jpg

Figura 2: Os gêneros textuais são definidos em função das variadas situações em que são usados.

Ao realizar a atividade 1, você pôde observar um pouco da grande diversidade de categorias de texto que circulam em nosso dia-a-dia. Sem nos darmos conta, aprendemos na vida em sociedade como lidar com cada um deles e quando e onde deve ser usar um ou outro. A essas categorias de texto, definidas pela situação de uso, chamamos de gêneros textuais ou gêneros discursivos. Um gênero textual está sempre inserido em uma esfera de circulação, isto é, em um conjunto de contextos sociais em que ele é produzido (escrito ou falado) e recebido (lido ou ouvido). Assim, o gênero receita, como o Texto I desta aula, pertence à esfera da culinária. Já o gênero notícia, como o Texto II desta aula, pertence à esfera jornalística, enquanto o gênero tabela nutricional, como o Texto III desta aula, pertence à esfera da saúde.

É importante que você domine o maior número de gêneros textuais possível, pois isso o ajudará nas diferentes esferas de comunicação com as quais se defronta na vida cotidiana. Afinal, saber falar, ouvir, escrever e ler bem não se resume às regras de concordância ou regência; comunicar-se com eficiência é ser capaz de reconhecer as exigências de cada situação e adequar-se às expectativas daquele com quem você precisa interagir.

Nesta disciplina, você aprenderá a comunicar-se em diversos gêneros textuais da esfera acadêmica, a que, aliás, pertence o Texto IV da atividade 1, o qual é um fragmento de artigo científico. Selecionamos, para este curso, os principais gêneros da escrita acadêmica, embora haja uma quantidade enorme deles, a saber: artigos científicos, relatórios científicos, notas de aula, diários de campo, teses, dissertações, monografias, artigos de divulgação científica, resumos de artigos, de livros, de conferências, resenhas, comentários, projetos, manuais de ensino, bibliografias, fichas catalográficas, currículos vitae, memoriais, pareceres técnicos, sumários, bibliografias comentadas, índices remissivos, glossários etc.

Porém, antes de conhecer mais a fundo os gêneros da esfera de circulação acadêmica, é preciso que você entenda que fatores determinam as características de forma e conteúdo de um gênero textual:

2.1. Tempo:

Um gênero textual surge sempre vinculado a um momento histórico, em que determinada necessidade humana exigiu uma forma específica de comunicação. Na época em que ainda não havia a Internet, muitas pessoas se comunicavam por meio do gênero carta, que, embora mantenha algumas semelhanças com o gênero e-mail, apresenta certas particularidades. Cartas costumavam ser mais longas do que e-mails, porque o tempo entre uma correspondência e outra, bem como o gasto envolvido, era necessariamente maior. Assim, era preciso garantir que todas as informações necessárias fossem transmitidas com clareza logo na primeira carta. Com e-mails, muitas vezes mandamos apenas frases curtas, pois é possível trocar vários deles ao longo do dia, literalmente conversando por meio de textos desse gênero.

Além disso, a questão do tempo envolve o momento em que a mensagem é escrita/falada e o momento em que é lida/ouvida. Desse modo, um gênero em que a produção e a recepção da mensagem ocorram ao mesmo tempo costuma apresentar menos informações para contextualizar o receptor. Veja a seguir, por exemplo, uma transcrição de diálogo entre duas mulheres.

L1: De massa, eu adoro. Me pego sempre indo num restaurante de massa ou num rodízio... Não dá pra ser magrinha assim, né?
L2: Sei... Também... (risos)
L1: Também adoro fazer... gosto de comer e fazer. Esse aqui, ó, é ótimo... Recita que eu peguei da minha irmã... Que ela adora também, né?
L2: Nem fala...
L2: Que eu peguei quando ela tava casada. Olha a cor... Você faz um molho... um molho que leva vários queijos...
L1: Hum...
L2: Você coloca cebola pra dourar junto com manteiga. Com manteiga ou margarina. Aí, você acrescenta os queijos. Também leva vinho... Vinho branco depois dos queijo derretido... Só duas colheres de sopa.

PEUL – Programa de Uso da Língua – UFRJ

Observe que, entre os interlocutores, houve comunicação eficaz, mesmo empregando frases que, para você, neste momento, sejam difíceis de entender plenamente, como “Olha a cor”. Como você está recebendo essa mensagem em um momento diferente de quando ela foi produzida, não sabe a que cor o informante L2 se referia. No entanto, como L1 ouviu essa frase no mesmo momento e no mesmo lugar onde L2 estava, foi fácil saber de que cor L2 estava falando.

Como nesta disciplina você vai aprender a redigir e ler textos acadêmicos, é importante que você perceba a importância de, quando redigir seus textos, pensar no seu leitor. Ele terá acesso à mesma situação em que você escreveu o seu texto? Provavelmente, ele o lerá em outro momento, logo é fundamental que você explicite as informações que não poderão ser recuperadas a partir do contexto.

2.2. Lugar:

Quando nos referimos a lugar, há dois fatores relevantes quanto aos gêneros textuais. O primeiro deles é o lugar físico da produção e recepção dos textos (escola, escritório, casa, empresa, mídia), que define boa parte das escolhas textuais. Um bilhete escrito em casa tem um formato diferente de uma circular no ambiente de trabalho, o que envolve não só o grau de formalidade, como também as particularidades dos assuntos discutidos em locais tão distintos.

No lugar físico da universidade, do laboratório ou da empresa, exige-se um grau maior de formalidade, tanto na comunicação oral quanto escrita. É frequente, por exemplo, o insucesso em entrevistas de emprego quando jovens falam muitas gírias ou gesticulam de forma exagerada, recursos comunicativos válidos, mas não pertinentes ao ambiente profissional. Nesse caso, é melhor deixá-los para a comemoração com os amigos após a entrevista, na qual você deve se portar de maneira mais reservada e dentro das normas de formalidade que se espera do entrevistado.

Da mesma maneira, quando nos comunicamos por escrito em situações menos formais, como em bilhetes, e-mails entre amigos, mensagens de texto em celulares ou softwares de mensagens instantâneas, preocupamo-nos menos com a forma e mais com a velocidade da comunicação. No entanto, no ambiente acadêmico a forma é muito importante. Assim, você não deve descuidar de questões como a concordância, a pontuação, a ortografia etc.

Outra questão para a qual você tem de prestar atenção enquanto escreve é o fato de que muitas vezes o autor e o leitor não estão no mesmo lugar quando interagem com o texto. Assim, ao redigir um relatório sobre um experimento, por exemplo, você não deve escrever "esta substância mudou de cor". Se o leitor lerá o texto em outro lugar, possivelmente longe da substância de que você está falando, não faz sentido a palavra "esta", que faz referência a um local próximo. Seria melhor, portanto, se você redigisse "a substância analisada mudou de cor", pois não há uma noção espacial atrelada à expressão "a substância".

Além do lugar físico da produção e da recepção do texto, a posição social do produtor e do receptor também influencia no gênero textual e nas escolhas linguísticas. Desse modo, um texto escrito para um colega é diferente de um texto escrito para o professor ou para o patrão. Note, por exemplo, que o Manual de Redação Oficial da Presidência da República recomenda diferentes formas de encerrar uma comunicação oficial, a depender da hierarquia entre remetente e destinatário. Assim, de acordo com essas regras que normatizam os textos circulantes nos órgãos públicos federais, um ofício escrito para um superior deve conter a despedida “respeitosamente” (seguida de vírgula), enquanto um ofício escrito para alguém de nível hierárquico igual ou inferior deve apresentar a forma “atenciosamente” (seguida de vírgula).

Para se familiarizar ainda mais com as técnicas de produção de slides, clique neste link.

Porém, como as relações de hierarquia dentro do mercado de trabalho nem sempre são tão claras – ou devem ser tão ressaltadas –, sugerimos uma dica: o melhor é seguir o padrão adotado pelo remetente. Se este é formal mesmo em conversas de corredor ou e-mails, faça como ele; do contrário, se você recebe uma mensagem que se encerra por “um abraço”, pode soar rude responder com o protocolar “atenciosamente”. Nessas horas, deve prevalecer o bom senso. Por fim, é importante notar, nessas situações, que quem assiste a apresentações desse tipo espera que o expositor também saiba usar produtivamente a própria voz como canal de comunicação. Ademais, essa fala deveria se articular com os slides comentando e completando-lhe as informações, e não repetindo-as.

2.3. Canal:

Falar/ouvir e ler/escrever são pares de habilidades muito diferentes, que exigem competências distintas. Os recursos de comunicação são outros, as estruturas gramaticais que usamos às vezes também mudam, bem como algumas palavras que usamos mais na oralidade, ou na escrita.

Um erro frequente de alguns alunos é não prestar atenção a essas diferenças, escrevendo como se fala, de modo a obedecer ao fluxo ininterrupto de ideias. Isso gera textos confusos, assim como alguém que fala como se estivesse escrevendo, pensando demais e usando construções sintáticas ou palavras muito complexas. É por isso que um gênero textual deve estar intimamente relacionado ao canal, ou meio, pelo qual a mensagem será comunicada.

Veja, por exemplo, que, ao fazer um seminário, utilizam-se comumente softwares para apresentações em slides. Muitas dessas apresentações, no entanto, são malsucedidas porque seu elaborador não atentou para o fato de que slides e papel são canais diferentes, exigindo maneiras também diversas de organizar as informações a serem expostas. Enquanto o papel fica na mão do leitor, que pode consultá-lo quantas vezes quiser, no seu próprio ritmo de leitura, um slide é exposto em superfícies planas distantes por um curto espaço de tempo. Assim, não adianta pôr muitos dados ou textos longos no slide, pois esse canal não permite confortável leitura por muito tempo consecutivo. É preferível utilizar pequenos tópicos, figuras e gráficos e deixar para o papel textos que exijam mais tempo e concentração na leitura.

2.4. Objetivo da interação:

A escolha do gênero textual deve levar em conta a intencionalidade discursiva, isto é, o objetivo que leva as pessoas a se comunicarem. Tais objetivos podem estar explícitos ou implícitos no texto e devem ser claramente percebidos por aquele que fala, pois diferentes objetivos requerem estratégias discursivas diferentes.

Na área de educação, por exemplo, é comum que se exija dos alunos a redação de textos de opinião, a fim de que eles se posicionem diante de algum tema polêmico. Nesse caso, o objetivo do texto é expor um ponto de vista acerca de algo, o que exige estratégias discursivas argumentativas e determinadas construções linguísticas, como conjunções que expressam causa/consequência, adjetivos avaliativos etc. Não atentar para esses fatores implicaria escrever um gênero textual diferente, o que causaria problemas de comunicação.

O conjunto desses fatores externos ao texto define características internas dos gêneros textuais, como a organização das informações, a escolha de palavras, as construções linguísticas etc. Para ler e escrever com propriedade qualquer gênero textual, é preciso conhecer a estrutura de cada um deles. Nas próximas aulas, você verá quais são as características macroestruturais e microestruturais dos principais gêneros acadêmicos.



Atividade 2


A seguir, há dois textos com a mesma temática, mas pertencentes a gêneros diferentes: o texto I é um cartum, enquanto o texto II é uma notícia. Leia-os atentamente para responder a estas perguntas:

2.1. O Texto I pertence ao gênero cartum, semelhante à tira em quadrinhos mas formado geralmente por uma única cena, com caráter humorístico. Levando em consideração que o humor está intimamente relacionado à quebra de expectativas, em que reside o humor desse cartum?

2.2. Frequentemente, reduz-se o humor àquilo que faz rir, como se seu único objetivo fosse a comicidade. Levando em consideração o que você aprendeu nesta aula sobre intencionalidade discursiva, pode-se dizer que o Texto I visa exclusivamente a fazer o leitor rir? Justifique sua resposta.

2.3. Chamamos de intertextualidade o fenômeno segundo o qual dois ou mais textos dialogam entre si, isto é, têm um ponto em comum, no que diz respeito ao conteúdo. A partir desse conceito, responda:

  1. Em que medida se aproximam os textos I e II?
  2. Em que medida diferem os textos I e II?

2.4. Que interlocutores o autor do Texto II demonstra que tinha em mente ao redigi-lo? Membros da comunidade acadêmica? Leigos? Justifique sua resposta com base na linguagem empregada no texto.

Texto I

Inserir a ilustração!!!!!!!!!


(www.fotolog.com/rosearaujocartum) - Rose Araújo

Proibição de celular na escola vira polêmica em SP

Lei aprovada na semana passada pela Assembleia bane os aparelhos das salas de aula.  Além de conversar, estudantes usam os telefones para colar nas provas.

Do G1, com informações do Fantástico

Um projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo na semana passada está gerando polêmica: será que o celular deve ser banido das salas de aula? Hoje, em algumas escolas do estado, em cada carteira é possível encontrar um celular.

Na teoria, o celular já é proibido em algumas escolas estaduais de São Paulo, mas, na prática, os alunos usam o telefone até para falar com a mãe durante a aula. “Você é obrigada a parar a aula, chamar a atenção e, muitas vezes, ouve ‘é minha mãe!’ E eu digo: ‘sua mãe não sabe que você está na aula?”, conta uma professora.

Na semana passada, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou um projeto de lei que proíbe pra valer esses aparelhinhos dentro das classes. Os alunos querem saber quais as punições e até mesmo se podem ser presos por descumprir a ordem.

A nova lei quer evitar que os alunos se distraiam, que atrapalhem os colegas e pretende coibir também abusos como o caso de estudantes que usam o aparelho para colar nas provas. “O professor não vê o celular debaixo da mesa, no bolso. A gente vai passando cola”, diz um deles.

Eles usam mensagens de texto para passar cola com os celulares. Mas há até quem tire foto da prova ou de uma questão e mande para o amigo. A lei que proíbe celulares em sala de aula ainda não entrou em vigor, pois precisa ser aprovada pelo governador de São Paulo, José Serra.

Confira as suas respostas


3. Conhecendo os tipos textuais



Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/y/yw/ywel/948188_learning_with_pencil.jpg

Figura 3: Os tipos textuais são definidos em função das características internas do texto.

Até agora, você viu nesta aula alguns gêneros textuais, suas características e os fatores externos que os definem. A partir de agora, vamos estudar a relação dos gêneros textuais com outro conceito importante da Linguística: os tipos (ou modos) textuais.

Um tipo textual envolve a seleção do caráter da informação a ser apresentada em um texto, bem como a maneira de fazê-lo. Enquanto o gênero é condicionado por fatores externos, como tempo, lugar, canal e objetivo, como você viu anteriormente, o tipo textual é definido a partir das características internas do texto: os dados que ele veicula e as palavras e frases que o constituem. É preciso atentar, porém, para o fato de que um gênero textual muitas vezes é composto por mais de um tipo textual. Como exemplo, observe o texto a seguir.

Desmatamento prejudica pássaros amazônicos

13 de janeiro de 2007

O desmatamento da Floresta Amazônica, que resulta em fragmentos pequenos e isolados de habitats, tem efeitos consistentemente negativos sobre várias espécies de pássaros na floresta, sugere estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores brasileiros e que foi publicado na edição desta semana da revista 'Science'. Durante treze anos, Gonçalo Ferraz, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, e seus colegas realizaram um estudo experimental de ampla escala no Projeto Dinâmica Biológica dos Fragmentos Florestais, visando quantificar os efeitos do tamanho dos fragmentos e seu isolamento sobre 55 espécies de pássaros da Amazônia Central. Originalmente, todos os 23 trechos florestais analisados faziam parte de uma floresta contígua, porém 11 desses trechos eventualmente foram isolados por fazendas. A metodologia separa os efeitos do tamanho e do isolamento, e também leva em conta o fato de que espécies diferentes são detectadas de forma diferente. Ferraz e seus colegas chegaram à conclusão de que o tamanho do fragmento florestal tem efeito negativo na ocorrência das espécies, e que um menor número de espécies de pássaros se mantém nos fragmentos de menor tamanho. O isolamento desses fragmentos das áreas maiores da floresta geralmente também tem efeito negativo, porém tal efeito varia consideravelmente dependendo da espécie. Os cientistas preveem que, 'com a destruição ainda maior da floresta, há a expectativa de que haja maior perda de espécies e que os efeitos do isolamento sejam mais graves'.

Como você pôde perceber, o texto citado se enquadra no gênero notícia, tendo sido publicado no ano de 2007 e divulgado pela Internet. Como as notícias veiculam informações para serem consumidas logo após sua produção, ficando desatualizadas em muito pouco tempo, geralmente são textos curtos, que possam ser lidos rapidamente. Seu objetivo é informar o leitor sobre eventos pontuais, não se estendo a reflexões mais profundas sobre o tema. Para isso, há o gênero reportagem, composto por textos mais longos e reflexivos.

A notícia “Desmatamento prejudica pássaros amazônicos” apresenta mais de um tipo textual em sua composição, podendo-se destacar as sequências narrativas e expositivas. Veja os trechos a seguir:

(...) estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores brasileiros e que foi publicado na edição desta semana da revista 'Science'. Durante treze anos, Gonçalo Ferraz, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, e seus colegas realizaram um estudo experimental de ampla escala no Projeto Dinâmica Biológica dos Fragmentos Florestais (...)
Ferraz e seus colegas chegaram à conclusão de que o tamanho do fragmento florestal tem efeito negativo na ocorrência das espécies (...)

Nessas passagens, o foco do conteúdo são as ações dos cientistas, como se percebe na recorrência a substantivos que se referem a esses indivíduos. A informação foi organizada de forma narrativa, em que se enumeram atividades conduzidas pelos cientistas, como a publicação de um texto, a realização de um estudo e a chegada a uma conclusão.

Pretérito perfeito do indicativo
tempo verbal que geralmente expressa ações terminadas no passado.

Para tanto, o autor da notícia empregou verbos no pretérito perfeito do indicativo, tempo verbal frequente para descrever as ações passadas em uma narrativa.

Porém, as ações dos pesquisadores não são o foco principal dessa notícia. A maioria dos leitores desse texto está interessada nas conclusões da pesquisa, mais do que nos procedimentos adotados pelos cientistas. Assim, embora o tipo textual narrativo esteja presente nesse texto, o tipo textual predominante é o expositivo, notado a partir do título.

Para informar ao leitor como o desmatamento prejudica os pássaros amazônicos, o autor se vale de frases com construções diferentes das analisadas anteriormente. Observe:

O desmatamento da Floresta Amazônica, que resulta em fragmentos pequenos e isolados de habitats, tem efeitos consistentemente negativos sobre várias espécies de pássaros na floresta (...)
(...) um menor número de espécies de pássaros se mantém nos fragmentos de menor tamanho. O isolamento desses fragmentos das áreas maiores da floresta geralmente também tem efeito negativo, porém tal efeito varia consideravelmente dependendo da espécie.

Veja que, nesses trechos, a ênfase não recai mais nos especialistas, mas sim nos pássaros e na floresta, designados por diferentes estruturas substantivas. Além dessa diferença no plano do conteúdo, há também mudanças no que diz respeito à forma. Enquanto as sequências narrativas apresentavam verbos no pretérito do indicativo, a predominância nas sequências expositivas é de verbos no presente do indicativo, pois esse tempo é geralmente empregado para apresentar fatos atemporais, isto é, que são verdade a qualquer momento.

A seguir, observe mais um texto, em que estão presentes outros tipos textuais:

Instruções gerais para o trabalho no laboratório

REGRAS DE SEGURANÇA

  1. O laboratório é um lugar de trabalho sério. Trabalhe com atenção, método e calma;
  2. Prepare-se para realizar cada experiência, lendo antes os conceitos referentes ao experimento e, a seguir, leia o roteiro da experiência;
  3. Respeite rigorosamente as precauções recomendadas;
  4. Consulte seu professor cada vez que notar algo anormal ou imprevisto;
  5. Use um avental apropriado;
  6. Não fume no laboratório;
  7. Faça apenas as experiências indicadas pelo professor. Experiências não autorizadas são proibidas;
  8. Se algum ácido ou qualquer outro produto químico for derramado, lave o local imediatamente com bastante água;
  9. Não toque os produtos químicos com as mãos, a menos que seu professor lhe diga que pode fazê-lo;
  10. Nunca prove uma droga ou solução;
  11. Para sentir o odor de uma substância, não coloque seu rosto diretamente sobre o recipiente. Em vez disso, com sua mão, traga um pouco de vapor até o nariz.
  12. Não deixe vidro quente em lugar que possam pegá-lo inadvertidamente. Deixe qualquer peça de vidro esfriar durante bastante tempo. Lembre-se de que vidro quente tem a mesma aparência do vidro frio;
  13. Só deixe sobre a mesa o bico de Bunsen aceso quando estiver sendo utilizado;
  14. Tenha cuidado com reagentes inflamáveis; não os manipule em presença de fogo;
  15. Quando terminar o seu trabalho, feche com cuidado as torneiras de gás, evitando escapamento;
  16. (...)

PRINCIPAIS VIDRARIAS E ACESSÓRIOS LABORATORIAIS

Profª Georgia Winkler

O texto que acabamos de citar pertence à esfera de circulação acadêmica, enquadrando-se no gênero manual. Entretanto, como você sabe, esse gênero não é exclusivo do meio universitário, sendo facilmente encontrado dentro das embalagens de quaisquer produtos eletroeletrônicos.

Ao redigir um manual, o autor do texto citado tinha intenções muito claras: instruir seu leitor quanto às regras de uso do laboratório e seus principais instrumentos. Para tanto, optou por empregar dois tipos textuais predominantes: o injuntivo e o descritivo.

O tipo textual injuntivo é marcado pela determinação de regras e procedimentos, os quais podem ser facilmente identificados na seção “Regras de segurança”, do texto citado. Dessa seção, transcrevemos uma breve passagem para fins de análise. Observe:

  1. O laboratório é um lugar de trabalho sério. Trabalhe com atenção, método e calma;
  2. Prepare-se para realizar cada experiência, lendo antes os conceitos referentes ao experimento e, a seguir, leia o roteiro da experiência;
  3. Respeite rigorosamente as precauções recomendadas;
  4. Use um avental apropriado;

Veja que o objetivo do autor (instruir o leitor acerca das regras de segurança no laboratório) influencia a maneira de organizar a informação dentro do texto. Em vez de parágrafos e frases longas, detalhando e justificando cada um dos procedimentos, o autor escolheu usar frases curtas e claras, que facilitassem a leitura e chamassem a atenção daqueles a quem essas instruções se destinam. Tratando-se de regras que visavam a assegurar a segurança dos alunos, era imprescindível que estas fossem apresentadas da maneira mais direta possível.

Além disso, como já vimos, o objetivo do autor define também as estruturas linguísticas do texto. Nesse caso, observe os verbos destacados nas frases transcritas. Estão todos flexionados no modo imperativo, a fim de ressaltar o caráter de ordem/conselho que suas frases veiculam. Tal característica é reincidente no tipo textual injuntivo.

Além de ensinar algo, geralmente um manual descreve o funcionamento de determinado produto. No caso do texto que estamos analisando, o autor empregou o tipo textual descritivo para enumerar alguns instrumentos importantes na prática laboratorial, apresentando, de forma bastante sucinta, suas principais características. Observe agora um trecho retirado da seção “Principais vidrarias e acessórios laboratoriais”, no qual predomina a descrição:

O tipo textual descritivo também influencia na forma de organizar a informação. Enquanto a seção anterior do texto se compunha de regras, esta é uma longa enumeração de itens, ao lado dos quais se acrescentam breves descrições, para facilitar a identificação dos utensílios típicos de um laboratório. Assim como o tipo textual descritivo determina a maneira de organizar a informação, as estruturas linguísticas e a escolha de palavras também são por ele marcadas. Veja, por exemplo, que no trecho transcrito há a presença constante de construções adjetivas (destacadas em negrito), classe gramatical que atribui qualidades aos substantivos. Dessa forma, os tipos de balão são identificados por adjetivos simples, como "volumétrico", ou por locuções adjetivas, como "de destilação", "de fundo chato" e "de fundo redondo".

Para concluirmos nosso estudo sobre os tipos textuais e sua relação com os gêneros textuais, leia agora o texto a seguir.

Normativas do IBAMA

Reginaldo Constantino (UnB)

A Constituição Federal de 1988 determina no seu artigo 218, parágrafo primeiro, que: “A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências”. Esse preceito constitucional vem sendo ignorado por vários órgãos do Governo Federal, que progressivamente vêm criando barreiras burocráticas que impedem os cientistas de estudar a nossa biodiversidade.

O IBAMA apresentou para consulta pública novas propostas de regulamentação de coletas e coleções de material biológico. São duas Instruções Normativas, uma sobre coleta e outra sobre cadastro de coleções. Embora existam avanços em alguns pontos, a grande novidade é a criação do Cadastro Nacional de Coleções ex situ, que tenta colocar sob o controle do IBAMA todas as coleções biológicas brasileiras.

A proposta inclui detalhes de como as coleções devem ser organizadas e administradas, sempre com a clara preocupação de facilitar o trabalho de controle e fiscalização pelo IBAMA. É obrigatória, por exemplo, a identificação da licença de coleta na etiqueta do espécime e o envio de relatórios periódicos ao IBAMA sobre tudo o que acontece com o acervo. As coleções seriam classificadas em “tipo A” e “tipo B”, ambas com exigências absurdas e fora da praxe existente mesmo nas instituições com mais infraestrutura. Os curadores de museus seriam reduzidos a meros burocratas com função de manter bancos de dados, preencher formulários e escrever relatórios. Ensino, pesquisa e extensão seriam atividades absolutamente irrelevantes. Como as autorizações de coleta ficariam dependentes do credenciamento da respectiva coleção, quem não se submeter às exigências do credenciamento nunca mais coletará uma mosca.

A questão é: quem deu ao IBAMA poderes para regulamentar atividades da área de Ciência e Tecnologia e especificamente sobre as coleções biológicas? Nem o Ministério da Ciência e Tecnologia e o CNPq ousam dizer aos pesquisadores como administrar seus laboratórios. Muitas coleções são seculares e pertencem a instituições muito mais antigas que o próprio IBAMA, como, por exemplo, o Instituto Oswaldo Cruz. A missão institucional do IBAMA é proteger o meio ambiente, e não direcionar os caminhos da ciência nacional. Essa proposta contraria frontalmente o artigo 218 da Constituição apresentado no início e obviamente segue a tendência observada de aumento da carga burocrática sobre pesquisadores e do controle de funcionários burocráticos sobre as atividades de pesquisa.

(...)

O texto citado foi escrito com um propósito diferente do que regia os dois outros anteriores, que, respectivamente, visavam a informar e instruir o leitor. Tais diferenças nos objetivos da interação acarretam estruturas e estratégias textuais também distintas entre os textos, como uma rápida comparação é capaz de identificar.

“Normativas do IBAMA” pertence ao gênero artigo de opinião, com o qual você já deve estar familiarizado, pois é frequente encontrá-lo em editoriais de revistas e jornais. Como o próprio nome indica, esse gênero textual visa a apresentar o ponto de vista de alguém acerca de determinado assunto, de modo a convencer o leitor da pertinência da opinião do autor. Para atingir tal objetivo, esse gênero apresenta predominantemente o tipo textual argumentativo.

Como marca característica da organização das informações, o tipo textual argumentativo apresenta sempre uma tese (ponto de vista defendido) e os argumentos que a sustentam. No texto citado anteriormente, essa tese fica bem clara na seguinte passagem:

Essa proposta contraria frontalmente o artigo 218 da Constituição apresentado no início e obviamente segue a tendência observada de aumento da carga burocrática sobre pesquisadores e do controle de funcionários burocráticos sobre as atividades de pesquisa.

Além disso, há pistas na própria linguagem empregada pelo autor que permitem a identificação do tipo textual a que pertence o texto. Veja:

Ensino, pesquisa e extensão seriam atividades absolutamente irrelevantes. Como as autorizações de coleta ficariam dependentes do credenciamento da respectiva coleção, quem não se submeter às exigências do credenciamento nunca mais coletará uma mosca.

(...) Muitas coleções são seculares e pertencem a instituições muito mais antigas que o próprio IBAMA, como, por exemplo, o Instituto Oswaldo Cruz. A missão institucional do IBAMA é proteger o meio ambiente, e não direcionar os caminhos da ciência nacional.

No trecho transcrito, as palavras destacadas servem para conectar ideias e orações: são as conjunções. Um texto argumentativo, para defender um ponto de vista, precisa relacionar uma série de argumentos, expressando noções de causa, consequência, comparação, oposição etc. Assim, no texto citado, a palavra “como” mostra que o fato de as autorizações dependerem do credenciamento da coleção é causa da submissão às exigências do credenciamento. Da mesma forma, a expressão “como, por exemplo” introduz um exemplo de instituição mais antiga do que o IBAMA: o Instituto Oswaldo Cruz. Por fim, a locução “e não” estabelece uma ideia de contraste entre a proteção ao meio ambiente e o direcionamento dos caminhos da ciência nacional.

Para tentar organizar de forma mais clara as informações apresentadas nesta seção, optamos por construir a tabela a seguir, que relaciona os tipos textuais aos gêneros em que cada um deles é predominante. No entanto, é preciso perceber que não há gênero puro, isto é, um gênero textual que envolva apenas um tipo textual. Dessa forma, uma reportagem envolve narração e exposição, uma bula de remédio envolve injunção e descrição, uma carta de reclamação envolve narração e argumentação...

Gêneros & Tipos: uma dica extra

O link a seguir se refere a um site em que se discutem as definições de gênero textual e tipo textual, com as implicações que esses conceitos acarretam na hora de ler e escrever um texto. Vale a pena conferir!

clique neste link

Tipos de texto Gêneros orais e escritos
Narração Conto, fábula, lenda, mito, biografia, romance, novela, piada, crônica, notícia, relato...
Argumentação Editorial, carta de leitor, assembleia, debate, resenha, ensaio, texto de opinião...
Exposição Artigo científico, seminário, palestra, verbete, reportagem, resumo, fichamento...
Injunção Manual de instruções, receita de bolo, regulamento, regras de jogo, receita médica...
Descrição Laudo, guia de viagem, perfil em comunidade virtual, relatório, texto publicitário...


Atividade 3

Leia os dois textos a seguir e responda a estas questões:

3.1. De que modo se estabelece uma intertextualidade entre os textos I e II?

3.2. Os objetivos que levaram os autores desses textos a redigirem-nos são aparentemente diferentes. Explique como esses textos diferem quanto à intencionalidade discursiva.

3.3. Se os objetivos que norteiam a redação dos textos são diferentes, também o são os tipos textuais utilizados. Justifique tal afirmativa com base nos textos I e II, apontando exemplos de diferenças linguísticas resultantes das diferenças de tipologia textual.

Texto I

Relacionamentos em redes sociais - o impacto das redes sociais na maneira como as pessoas se relacionam, na solidão e na própria saúde social.

As redes sociais na internet reúnem 29 milhões de brasileiros por mês. Oito em cada dez pessoas conectadas no Brasil têm o seu perfil publicado em algum site de relacionamentos. Elas usam essas redes sociais para manter contato com os amigos e conhecer pessoas, tanto com objetivos de amizade, profissional, amoroso ou puramente sexual. Uma pesquisa do Ministério da Saúde revelou que 7,3% dos adultos com acesso à internet fizeram sexo com alguém que conheceram online.

Dentre as redes sociais, o Orkut é a preferida dos brasileiros; agora, avançam sobre o Twitter e o Facebook. A audiência do primeiro quintuplicou neste ano e a do segundo dobrou. Juntos, essas duas redes sociais foram visitadas por seis milhões de usuários em maio, um quarto da audiência do Orkut. Para cada quatro minutos na rede, os brasileiros dedicam um a atualizar seu perfil e a visitar o dos amigos, segundo dados do IBOPE Nielsen Online.

(...)

Redes sociais aumentam ou reduzem a solidão? Para responder, é necessário saber que existem dois tipos de solidão: a emocional e a social. Este conceito foi apresentado por Roben Weiss, sociólogo americano da década de 70. Weiss afirma que a solidão emocional é o sentimento de vazio causado pela falta de relacionamentos profundos. A solidão social é o sentimento de tédio e marginalidade causado pela falta de amizades ou de um sentimento de pertencer a uma comunidade.

Vários estudos têm reforçado a tese de que as redes sociais diminuem a solidão social, mas aumentam significativamente a solidão emocional.

É como se os participantes das redes sociais estivessem sempre rodeados de pessoas, mas não pudessem contar com nenhuma delas para uma relação mais próxima. Já se falou em “solidão a dois, agora estamos na era da solidão a mil”.

(...)

Texto II

ORKUT: a febre, a praga e o recôndito

Juliano Niederauer
13 de janeiro de 2005

O orkut (www.orkut.com) é uma rede social que surgiu recentemente e mudou os hábitos de grande parte dos internautas, principalmente dos brasileiros. Por incrível que pareça, o Brasil representa mais de 50% dos usuários do orkut em todo mundo. Criado pelo engenheiro turco Orkut Buyukkokten, o site agora faz parte do "império" da Google, empresa proprietária do site de busca mais conhecido no mundo.

Mas, afinal, qual é o diferencial do orkut? Por que ele está fazendo tanto sucesso, a ponto de atingir uma popularidade poucas vezes vista na Internet mundial? Os usuários o acessam de todas os lugares possíveis, seja em casa, no trabalho, na escola ou na universidade. Se você for a um cyber café, um bar, uma casa noturna ou qualquer quiosque que possua acesso à Internet, provavelmente verá alguém acessando uma página de fundo lilás, com várias fotos de pessoas, comunidades etc.

Do ponto de vista técnico, percebemos rapidamente que se trata de um site bastante simples. Não há nada de excepcional em termos de tecnologia. É claro que se torna necessária uma superestrutura de rede e muitos servidores para suportar os milhões de acessos vindos de toda parte do mundo. Porém, em termos de programação, um desenvolvedor Web com certa experiência poderia fazer um site semelhante em poucas semanas. O fato é que o sucesso do orkut não está na parte técnica, mas sim na idéia, somada à estrutura que a Google colocou à disposição para o projeto.

(...)

Existem muitas comunidades com temas interessantes, onde realmente surgem debates proveitosos. No entanto, se você navegar pelo orkut, começará a perceber algumas inutilidades, como por exemplo:

Ok, no orkut tudo é válido! Afinal, o que alguns consideram inconveniente, outros consideram muito divertido. Quem nunca gostou do seriado Chaves irá odiar as dezenas de comunidades dedicas a ele. Mas quem é um "chavesmaníaco" poderá ficar horas dando risada ao relembrar as histórias do programa, contadas pelos membros da comunidade. Existem também as comunidades do tipo "Eu odeio". Por exemplo, se você não gosta do Galvão Bueno, saiba que existem mais de 20 comunidades do tipo "Eu odeio o Galvão Bueno".

Enfim, o orkut virou uma febre. E junto com a febre, veio uma praga, que são os famosos spams. Felizmente, esse problema está sendo contornado com a desabilitação do envio de mensagens para os membros das comunidades. No início, ao acessar o orkut, o sistema exibia um aviso do tipo "Você tem 54 novas mensagens", sendo que 99% delas eram um verdadeiro lixo eletrônico, como correntes, propagandas etc. Atualmente, você pode enviar mensagens somente aos seus amigos, e não para uma comunidade inteira.

Nem só de palavras vivem os textos...


Além de textos compostos exclusivamente por palavras, há também aqueles que são formados apenas por imagens e os que combinam palavras e imagens. Assim, dizemos que há textos verbais, não-verbais e mistos.

Na vida acadêmica, é frequente o contato com textos que exigem a decifração de imagens em sua leitura, como no caso dos gráficos. A seguir, veja os principais tipos de gráficos e uma breve análise de cada um deles:


  • gráficos em pizza (ou gráficos em torta): apresentam a contribuição de cada um dos elementos para a formação total (se quiser ver um exemplo, vá para http://wikimmed.blogs.ca.ua.pt);
  • gráficos em colunas agrupadas: possuem um eixo vertical e outro horizontal, com barras que definem informações a partir do entrecruzamento dos dois eixos (se quiser ver um exemplo, vá para http://www.actaorl.com.br;
  • gráficos de linha: também possuem um eixo vertical e outro horizontal, com uma linha traçada para indicar a variação de determinados valores ao longo de um processo; o próprio título do gráfico expressa a relação estabelecida entre os dois eixos (se quiser ver um exemplo, vá para http://www.embrapa.br.

Outro problema que merece destaque no orkut é a autenticidade das informações. Navegando pelo site, você irá se surpreender ao descobrir que o Ronaldinho tem o seu perfil cadastrado, assim como o Romário, a Xuxa, o Jô Soares, a Gisele Bündchen e o presidente Lula. Porém, a maioria desses perfis são falsos, e foram criados por alguns usuários que não tinham nada mais importante para fazer. É claro que existem alguns famosos com perfis verdadeiros no orkut, como o cantor Léo Jaime, que tem milhares de "amigos". Certa vez, a apresentadora Silvia Abravanel (filha de Silvio Santos) foi ao programa "Show do Tom" na Rede Record e falou ao vivo que estava no orkut. Em poucos minutos, seu perfil recebeu centenas de scraps (recados deixados pelos usuários), o que demonstra a popularidade da rede social.

Confira as suas respostas


Referências

Cogumelos atraem turistas de todo o país – fazenda mostra diversas formas de cultivo e ensina produtores. Disponível em: http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=12771. Acesso em 05 ago 2009.

CONSTANTINO, R. Normativas do IBAMA. Disponível em: http://www.botanica.org.br/default.asp?SECAO=2&SUBSECAO=0&EDITORIA=68. Acesso em 05 ago 2009.

COUTINHO, L. N. Doenças fúngicas e fungos competidores em cogumelos comestíveis do gênero agaricus. Disponível em: http://www.biologico.sp.gov.br/rifib/III%20RIFIB%20anais.PDF. Acesso em 05 ago 2009.

Desmatamento prejudica pássaros amazônicos. Disponível em: http://portalamazonia.globo.com/pscript/noticias/noticias.php?pag=old&idN=47418. Acesso em 05 ago 2009.

KLEIMAN, A. B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1992.

KOCH, I. G. V. Introdução à Linguística Textual. São Paulo: Martins Fontes, 2006.  

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de textos e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

NIEDERAUER, J. ORKUT: a febre, a praga e o recôndito. Disponível em: http://www.niederauer.com.br/editoriais/13012005.php. Acesso em 20 set 2009.

Proibição de celular na escola vira polêmica em São Paulo. Disponível em:http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL97898-5605,00.html Acesso em 20 set 2009.

Relacionamentos em redes sociais - O impacto das redes sociais na maneira como as pessoas se relacionam, na solidão e na própria saúde social. Disponível em: http://canal22.com.br/?p=404. Acesso em 20 set 2009.

Sopa de creme de cogumelos. Disponível em: http://www.brasmicel.com.br/RECEITA.htm. Acesso em 05 ago 2009.

WINKLER, G. Instruções gerais para o trabalho no laboratório. Disponível em: http://pessoal.educacional.com.br/up/81000001/5123693. Acesso em 05 ago 2009.



Conclusão

Esperamos que, nesta aula, você tenha se familiarizado um pouco mais com o trabalho com textos, desenvolvendo, inclusive, o prazer de manipular palavras, frases, parágrafos... Essa é uma habilidade essencial às esferas acadêmica e profissional, além de permitir voos e reflexões cada vez mais altos, no que diz respeito ao crescimento pessoal e ao relacionamento com as outras pessoas.



Resumo

Nesta aula, você aprendeu que ler ou escrever não são atividades sempre iguais: interagir com alguém por meio de uma carta é muito diferente de se comunicar por meio de um artigo de jornal, ou de uma receita de bolo, ou de um poema. Cada situação de comunicação, com seu tempo, espaço e canal específicos, junto com a intencionalidade particular do locutor, demanda um gênero textual – e uma tipologia textual – a serem empregados.

Enquanto o gênero textual é definido por componentes internas e externas ao texto, a tipologia textual tem a ver com as estruturas linguísticas predominantes em um texto. No entanto, é preciso perceber que não há gênero puro, isto é, um gênero textual que envolva apenas um tipo textual. Dessa forma, uma reportagem envolve narração e exposição, uma bula de remédio envolve injunção e descrição, uma carta de reclamação envolve narração e argumentação...

O mais importante é você perceber o que aprendeu nesta aula como dicas e mecanismos para ajudá-lo a redigir seus próprios textos, não como uma camisa de força. Escrever e ler são atividades múltiplas, que ativam diferentes conhecimentos e mobilizam diversas habilidades, sendo impossível (e incoerente) prescrever regrinhas aprisionadoras.



Informações sobre a próxima aula

Na próxima unidade, você vai estudar uma das estruturas fundamentais na construção de um texto: o parágrafo. Vamos discutir sua extensão, sugestões para delimitá-lo, organizá-lo e redigi-lo, de modo a tornar seus textos mais coerentes e coesos.



Fórum da Aula 1

Agora que você leu, refletiu e exercitou suas habilidades de leitura e escrita, é hora de discutir com seus colegas de turma sobre essa experiência. Para isso, entre no primeiro fórum desta disciplina e se apresente de um jeito diferente para seus colegas, respondendo às seguintes perguntas:

  1. Que gêneros textuais escritos você é chamado a produzir com maior frequência?
  2. O que você acha mais difícil nesse tipo de atividade?

Na sua réplica, comente as respostas dos seus colegas, revelando afinidades e diferenças entre vocês e/ou pedindo mais detalhes relativos aos depoimentos lidos.