Apresentar os mecanismos de coesão textual.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
Você já teve a impressão, enquanto lia um texto, de que as ideias não lhe pareciam bem relacionadas? Faltavam uma concatenação mais clara, um desenvolvimento adequado ou mesmo vínculos explícitos entre as frases? Nesses momentos, você se deparou com textos que tinham problemas de coesão e pôde perceber o quanto isso prejudica a leitura. Caso o texto não esteja coeso, o leitor perde muito tempo tentando identificar qual é a relação entre as informações, o que impede que ele atente, de fato, para o conteúdo do que lê.
Tomemos como exemplo o texto a seguir, em que problemas de coesão dificultam a compreensão da mensagem. Trata-se de um texto de opinião, escrito por aluna do Ensino Superior e analisado, entre outros, em uma pesquisa conduzida por Vêncio e Pachane (2007). Tal estudo se debruçava sobre os problemas de coesão e coerência na escrita universitária.
O texto a seguir foi escrito em resposta à questão “você gosta de ser brasileiro?”, proposta em um trabalho exigido em curso de graduação.
Sim eu gosto de ser brasileira pois foi no Brasil que nasci e fui criada, é o país que conheço realmente. Tirando exceções de que viajando para outro país mesmo que ficamos um mês por exemplo não dá para conhecer a cultura, as pessoas, o único sentimento que se têm é que tudo é bom, o lugar e as pessoas são legais, mas até quando tudo será visto dessa forma.
Apesar de o Brasil ter a parte ruim, ou seja, a violência, os bandidos, os corruptos, é um país onde se tem liberdade para sair, conversar com amigos, fazer festas, conhecer pessoas.
Há lugares maravilhosos, jamais vistos por pessoas: praias, cidades, e até mesmo culturas diferentes para cada estado. Pelo menos por mim, existe várias oportunidades ainda não vistas.
Enfim, no meu ponto de vista o Brasil tem tudo para ser perfeito, se não existisse a violência, os bandidos e os corruptos. Cada um desses citados, estragam as pessoas e em geral o nosso país, pois gera benefício ruim para o outro, um vai desencadeando item ruim para o outro gerando uma bola cheia de enroscos sem fim. Daí de tudo isso terá a visão de tudo que passamos hoje, de toda sujeira que tem no nosso país; portanto, se nada disso existisse, ou pelo menos fosse uma porcentagem menor, o nosso país seria melhor gerando mais orgulho de ser brasileiro”
Como você acabou de ver, problemas de coesão dificultam a leitura do texto e a veiculação da mensagem. A esse respeito, cabe notar que, segundo diversos estudos, as maiores dificuldades de alunos no Ensino Superior, na hora da escrita, são as questões de coesão e coerência textual. Muitas vezes, o discente conhece o conteúdo sobre o qual deve escrever – em uma prova, uma pesquisa, um artigo etc. –, mas se perde quando tem de organizá-lo no papel.
Pensando nisso, sugerimos um link para um artigo acerca dessa problemática, em que você pode encontrar outros exemplos de textos com falhas de coesão e sugestão para resolvê-las: www.alb.com.br
Além dos desvios miscroestruturais – na sintaxe de pontuação, concordância e regência –, que dificultam a leitura do texto, os problemas macroestruturais comprometem a mensagem que a aluna tentou passar.
O primeiro parágrafo, por exemplo, apresenta uma frase muito longa e confusa. A relação entre as ideias nela contidas não é objetivamente expressa, apesar de o parágrafo conter apenas duas informações centrais: o gosto de ser brasileira e o fato de que, em rápidas viagens, vemos apenas pontos positivos dos locais visitados.
O terceiro parágrafo, apresentando ideias opostas, redunda em paradoxos (VÊNCIO; PACHANE, 2007), como em “lugares maravilhosos jamais vistos por pessoas”.
O último parágrafo também incorre em problemas coesivos ao apresentar a seguinte frase: “Cada um desses citados, estragam as pessoas e em geral o nosso país, pois gera benefício ruim para o outro, um vai desencadeando item ruim para o outro gerando uma bola cheia de enroscos sem fim”. A quem se referem as expressões sublinhadas? De maneira semelhante, o conectivo “daí de tudo isso” não aponta para uma informação específica no texto, prejudicando sua compreensão (VÊNCIO; PACHANE, 2007).
Quando lemos um texto, esperamos um fluxo lógico de ideias bem concatenadas e relacionadas. Para isso, dispomos de pistas deixadas pelo autor na superfície textual: os itens coesivos. Esses elementos linguísticos permitem que o leitor perceba as ligações entre as informações apresentadas no texto, o que serve para orientar sua leitura. Por outro lado, um mau uso desses recursos pode gerar interpretações erradas: analisar uma causa como consequência, um contraste como semelhança ou não perceber com exatidão que palavra um pronome retoma no texto pode causar problemas sérios de comunicação.
A importância da coesão para a transmissão de uma mensagem está contida na própria palavra texto. Derivado do latim textum (tecido, em português), o termo texto sugere a noção de costura. Assim como em um tecido não basta haver uma justaposição dos fios, um texto precisa de que suas partes se entremeiem e interrelacionem. Nesses nós entre as informações, semelhantes aos pontos da costura, encontramos os mecanismos coesivos, que explicitam o encadeamento entre as ideias.
A fim de tornar essa explicação mais clara, leia atentamente o texto a seguir, refletindo sobre o papel coesivo das estruturas em destaque.
Apesar de manifesto, tema está fora da campanha eleitoral portuguesa. Logo após entrar em vigor, editoras brasileiras já atualizaram dicionários.
Há nove meses adotada no Brasil, a reforma ortográfica ainda não tem um cronograma oficial para ser aplicada em Portugal. Ratificada por quatro países (Cabo Verde e São Tomé e Príncipe também assinaram o acordo), a mudança nas regras ortográficas tem causado polêmica entre os portugueses.
Apesar de não estar na pauta das campanhas para as eleições gerais deste domingo (27), o tema foi parar na Assembleia em maio deste ano, quando uma petição para tentar reverter o acordo foi assinada por 113.206 pessoas e discutida na Comissão de Ética e Sociedade.
Um dos signatários, o escritor e ex-deputado do Parlamento europeu Vasco Graça Moura, diz que a reforma é "uma barbaridade e um chorrilho de asneiras, que não permite atingir qualquer unidade da língua". Ele acredita que ainda é possível reverter o acordo legalmente. "É inconstitucional, face à Constituição Portuguesa, ainda não foi ratificado por todos os países signatários e é impossível aplicá-lo sem a existência de um vocabulário ortográfico assente e acordado entre todos os países que começaram por subscrever o documento, além de criar inúmeros problemas às crianças, aos professores e aos idosos, sem nenhuma contrapartida útil."
Já para o professor de literatura da Universidade de Coimbra Carlos Reis, a reversão política da adoção do acordo não é aplicável, pois constituiu um "ato político democraticamente legitimado". Se isso acontecesse, segundo ele, seria um "ato de denúncia unilateral" que prejudicaria a imagem do país.
Em entrevista ao G1, o professor Reis disse acreditar que, apesar das resistências, o próximo ano será o da disseminação e o da progressiva aceitação da nova ortografia. "Há jornais que já a adotaram e ainda recentemente a Associação de Professores de Português apelou ao Ministério da Educação no sentido de “forçar” a edição de livros escolares em harmonia com o acordo ortográfico. E está para breve a publicação, em Portugal, de um vocabulário ortográfico da língua portuguesa, instrumento importante, mas não decisivo, para que se resolvam algumas (poucas) dificuldades que a nova ortografia levanta."
(...)
As palavras destacadas nessa notícia estabelecem, de diferentes formas, relações entre suas partes constituintes. Por exemplo, um dos pontos centrais do texto – a nova ortografia – é retomado em diversas frases por algumas das expressões sublinhadas, garantindo que as novas informações apresentadas se “costurem” em torno desse mesmo eixo. Construções como “(o) tema”, “a reforma ortográfica”, “mudança nas regras ortográficas”, “a reforma”, o “documento”, “o acordo”, “o acordo ortográfico” e “a nova ortografia” asseguram tal unidade ao texto, formando uma cadeia coesiva que aponta para a mesma expressão, presente no título: “nova ortografia”. Além disso, no trecho “Há jornais que já a adotaram”, o pronome em destaque retoma novamente a expressão “nova ortografia”, contribuindo para o encadeamento das ideias.
Essa cadeia coesiva também pode ser estabelecida de outras formas, como percebemos no seguinte exemplo:
Ele acredita que ainda é possível reverter o acordo legalmente. “É inconstitucional, face à Constituição Portuguesa, ainda não foi ratificado por todos os países signatários (...)”.
Ao observarmos os verbos em destaque, percebemos que seus respectivos sujeitos estão ocultos, isto é, não estão explicitamente apresentados ao lado dos verbos. No entanto, o leitor é capaz de perceber que ambas as orações iniciadas pelas palavras sublinhadas dizem respeito ao já mencionado acordo, em torno do qual se estrutura o texto.
Outro papel preponderante para a coesão é desempenhado pelos conectivos marcados em itálico no texto, como se pode perceber no trecho a seguir:
Apesar de não estar na pauta das campanhas para as eleições gerais deste domingo (27), o tema foi parar na Assembleia em maio deste ano, quando uma petição para tentar reverter o acordo foi assinada por 113.206 pessoas e discutida na Comissão de Ética e Sociedade.
Ao ler esse trecho, você só pôde entender como se relacionam as informações que o compõem graças às expressões destacadas. O conectivo “apesar de”, por exemplo, logo no início do parágrafo, denota o caráter opositivo entre o fato de o acordo ortográfico não estar na pauta para as eleições e tal tema haver chegado à Assembleia. Além disso, a conjunção “quando” traduz uma ideia de simultaneidade entre a chegada do tema à Assembleia e a assinatura e discussão de determinada petição.
De maneira semelhante, a palavra “para” introduz a finalidade dessa petição: tentar reverter o acordo. Por fim, o vocábulo “e” conecta, de forma aditiva, a assinatura e a discussão do referido documento.
Identificar que palavras estabelecem coesão em um texto é condição imprescindível para desempenhar com eficiência sua competência comunicativa. Na próxima seção, estudaremos mais a fundo como funciona cada mecanismo coesivo, mas, antes disso, vamos praticar um pouco o que você acabou de aprender.
Leia atentamente o texto a seguir e destaque as palavras ou expressões que estabelecem coesão entre ideias, frases e parágrafos. Proceda como Para fazer isso, use como modelo a análise que fizemos do texto anterior.
(...)
V. Conclusão
A Embrapa (...) vem fortalecendo mecanismos que viabilizem o uso seguro da engenharia genética, de forma a valorizar os investimentos realizados pela sociedade brasileira em pesquisa e desenvolvimento agropecuário, o que torna o agronegócio responsável por cerca de 40% do PIB nacional.
Em vista do exposto, paralelamente aos investimentos em pesquisa biotecnológica, a Embrapa está se capacitando para realizar pesquisa e análise de segurança alimentar e ambiental de produtos transgênicos. A Embrapa já possui capacitação para desenvolver várias destas análises em seus centros de pesquisa, em particular no Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Agroindústria de Alimentos, bem como em todos os seus Centros de Produtos. Esta iniciativa, complementada pela atuação em parceria com outras instituições nacionais de pesquisa e Universidades, dotará o país de infra-estrutura e pessoal capacitado para garantir ainda mais segurança na liberação de plantas transgênicas no meio ambiente e na colocação no mercado de alimentos seguros delas derivados, atendendo às necessidades e peculiaridades do país e passando a se constituir como uma ferramenta de apoio para a própria CTNBio.
É preciso destacar, neste contexto, a imediata necessidade de investimentos, pelo Governo, em treinamento e infra-estrutura, na área de análise de segurança alimentar e ambiental, fundamentada em princípios científicos de análise de risco.
Na atividade anterior, você exercitou a capacidade de identificar nexos coesivos entre as ideias de um texto. Agora, vamos analisar em detalhe os diferentes recursos de que você pode se valer na hora de escrever, a fim de concatenar claramente as informações.
Quando escrevemos, é preciso, o tempo todo, adicionar novas informações a algo que já foi mencionado. Quem escreve às vezes fica confuso nessa hora, por não saber como se referir a algo já dito sem se tornar repetitivo. Na fala, a linguagem corporal, o contexto de enunciação e a própria reiteração de palavras resolvem esse problema, mas na escrita é necessário lançar mão de outros recursos.
Os elementos que fazem remissão a algo já dito, ou que, menos frequentemente, antecipam algo que ainda será mencionado, estabelecem coesão referencial. É graças a esse fenômeno que um texto pode ter progressão temática, isto é, novas ideias podem ser-lhe acrescentadas, sem que o foco inicial seja perdido. A coesão referencial estabelece pontes entre diferentes pontos do texto, de modo que as ideias que vão sendo adicionadas constituam expansões de informações anteriores.
A fim de tornar essa explicação mais clara, leia a seguinte notícia:
O peixe virou sensação na chegada de Santos à Colônia de Pescadores, na Praia do Suá, em Vitória, nesta sexta-feira (25). Ele tinha saído da capital do Espírito Santo, no dia 1º de setembro, com o barco Santa Odete para a pescaria.
O filhote de cação de duas cabeças foi descoberto durante a limpeza dos peixes. A pescaria rendeu, ao todo, 50 cações. Dos nove filhotes, oito deles estavam vivos e já prontos para nascer. Apenas o de duas cabeças estava morto.
Santos tem 30 anos de experiência como pescador e disse ter ficado assustado com a anomalia. "Eu fiquei admirado. Nunca tinha visto nada daquele jeito. Ficou todo mundo espantado com o peixe de duas cabeças. Trouxe para a colônia para mostrar que não é história de pescador."
Os outros seis pescadores que acompanhavam Santos também ficaram espantados. "Eles não sabiam nem o que dizer. Ficou todo mundo espantado demais, pra falar alguma coisa."
Nesse texto, há três grandes cadeias coesivas, que concatenam informações acerca das três principais personagens da notícia, já presentes no título: o pescador de Vitória, o cação de duas cabeças e sua mãe.
Ao longo da narrativa, para que novas informações fossem acrescentadas a cada uma dessas personagens, foi preciso fazer constantes referências a elas. Com o objetivo de que o texto não ficasse cansativo, o autor valeu-se de diferentes expedientes para retomar esses termos já mencionados, em vez de simplesmente repetir as mesmas palavras.
Assim, vejamos a tabela a seguir, que organiza essas marcações coesivas no texto:
Pescador de Vitória |
|
Cação de duas cabeças |
|
Mãe |
|
Além desses mecanismos, podemos notar ainda as expressões “um deles” e “oito deles”, referindo-se a “filhotes”; e o pronome “eles”, retomando “pescadores. Tais construções, embora não integrem as principais cadeias coesivas do texto, asseguram conexão entre as frases.
Veja, pois, que uma parte substancial das palavras que compõem a notícia são dedicadas ao encadeamento lógico de suas ideias. Então, quando você tiver de redigir seu próprio texto, é fundamental que se preocupe não só com a seleção das informações a serem comunicadas, mas também com a disposição delas em uma cadeia lógica e coesa, estabelecida pela coesão referencial.
Que tal uma atividade para consolidar esse conhecimento?
Leia o texto a seguir e destaque os itens que estabelecem uma cadeia coesiva, retomando a estrutura “cigarro eletrônico”, presente no título.
Parar de fumar fumando é o sonho de consumo dos fumantes. E há sites que prometem exatamente isso: vendem o cigarro eletrônico como uma forma de fumar sem prejudicar a saúde e sem importunar as pessoas.
O produto é anunciado como um tratamento antitabagismo altamente eficaz. Mas há uma semana a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou um alerta, desaconselhando o método.
"Da forma como o produto está sendo comercializado, é um engodo", afirma Paula Johns, diretora da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo). Não há nenhuma evidência científica sobre sua segurança e ele não pode ser apresentado como tratamento. "Há um consenso brasileiro sobre os tratamentos aprovados, e esse cigarro não está incluído", diz Johns.
Há pelo menos um site brasileiro vendendo a engenhoca como tratamento. Por R$ 380, entrega-se o produto em qualquer lugar do país. Basicamente, é um tubinho de aço com um cartucho de nicotina, que é aspirada com vapor d'água em quantidades determinadas.
Sergio Ricardo Santos, coordenador do PrevFumo, núcleo de prevenção ao tabagismo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que o grande problema é que o método mimetiza o ritual do ato de fumar.
"Outras formas de reposição de nicotina, como adesivos ou goma de mascar, não são prazerosas. O cigarro eletrônico é e, portanto, não atua nos gatilhos comportamentais que estimulam a vontade de fumar. E dificilmente alguém abandona o cigarro sem mudar o seu comportamento em relação a ele."
Frequentemente, quando queremos nos referir a outra passagem de um texto, tanto fala quanto na escrita, recorremos à classe dos pronomes.
Quando conversamos informalmente, os pronomes “ele” e “ela” são os mecanismos mais comuns para que estabeleçam remissões a outros termos, por meio da coesão referencial pronominal. Porém, se na fala esse é um recurso muito frequente, na escrita é preciso dosar a quantidade de vezes em que o usamos, pois o mau emprego de pronomes pode acarretar ambiguidade ao texto. Observe:
“O desejo de crescer é inerente ao ser humano, que tenta, o tempo todo, superar-se. Ele é motivado por uma necessidade de conquista, à qual se soma a incessante comparação com os semelhantes”.
O pronome sublinhado nessa frase estabelece coesão com um termo da frase anterior, mas qual? “Desejo”? Ou “ser humano”? Há casos em que o contexto é capaz de sanar dúvidas como essa, mas, no trecho que você acaba de ler, a mensagem veiculada pelo autor é irrecuperável. Desse modo, o texto ficaria melhor caso o autor tivesse trocado “ele” por “esse sentimento” (referindo-se a “desejo”) ou por “o homem” (referindo-se a “ser humano”).
Embora haja gêneros textuais em que o duplo sentido seja uma virtude, como a poesia, a música e a publicidade, na escrita acadêmica a ambiguidade é um problema a ser evitado. Assim, sempre que você for empregar um pronome como recurso coesivo, assegure-se de que a frase construída tenha apenas uma interpretação.
Vamos, então, entender como usar os principais tipos de pronomes para estabelecer conexão entre as diferentes partes de um texto. Para isso, tomemos por base a notícia a seguir:
A chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos). O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal que, segundo geólogos, conserva a qualidade do petróleo.
(...)Um comunicado, em novembro do ano passado, de que Tupi tem reservas gigantes, fez com que os olhos do mundo se voltassem para o Brasil e ampliassem o debate acerca da camada pré-sal. À época do anúncio, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) chegou a dizer que o Brasil tem condições de se tornar exportador de petróleo com esse óleo.
(...)Para termos de comparação, as reservas provadas de petróleo e gás natural da Petrobras no Brasil ficaram em 13,920 bilhões (barris de óleo equivalente) em 2007, segundo o critério adotado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Ou seja, se a nova estimativa estiver correta, Tupi tem potencial para até dobrar o volume de óleo e gás que poderá ser extraído do subsolo brasileiro.
Estimativas apontam que a camada, no total, pode abrigar algo próximo de 100 bilhões de boe (barris de óleo equivalente) em reservas, o que colocaria o Brasil entre os dez maiores produtores do mundo.
(...)Lendo a notícia que reproduzimos, há diversos pronomes que estabelecem coesão referencial entre suas partes. Veja, por exemplo, a seguinte passagem:
“A chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros (...)”.
Para integrar as duas partes que compõem tal frase, o autor usou a palavra QUE, chamada de pronome relativo nesse contexto. Além de encadear ambas as ideias, esse pronome evita a repetição desnecessária de palavras e a fragmentação excessiva dos períodos. Perceba que, caso não fosse usado o relativo, a passagem analisada ficaria assim:
“A chamada camada pré-sal é uma faixa. A faixa se estende ao longo de 800 quilômetros (...)”.
Vejamos, então, outro caso em que o pronome relativo permitiu uma redação mais coesa:
“O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal que, segundo geólogos, conserva a qualidade do petróleo”.
Nesse trecho, dois pronomes relativos foram usados para estabelecer uma cadeia de referentes. O primeiro retoma “profundidades”; o segundo, “uma camada de sal”. Se esses conectivos não tivessem sido empregados, haveria outra redação, mais repetitiva e cansativa:
“O petróleo encontrado nesta área está a profundidades. As profundidades superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal. A camada de sal, segundo geólogos, conserva a qualidade do petróleo”.
É preciso, porém, perceber que o excesso de pronomes relativos em uma mesma frase, em vez de facilitar a leitura, complica-a. Quando esse recurso coesivo é empregado em demasia, os períodos tornam-se muito longos, o que confunde o leitor. A fim de evitar uma repetição desnecessária da palavra QUE na função de pronome relativo, você pode empregar outros vocábulos, contanto que atente para suas especificidades. Observe:
3.1.1.1.a. O QUAL/A QUAL – essas palavras sempre podem substituir um pronome relativo QUE, contanto que ele esteja antecedido por vírgula ou preposição.
Exemplo: Este é o livro de que preciso = Este é o livro do qual preciso.
Maria, que mora aqui, deve-me dinheiro. = Maria, a qual mora aqui, deve-me dinheiro.
Sumiu a flor que plantei = Sumiu a flor a qual plantei.
3.1.1.1.b. O QUE – esse pronome relativo não se remete a um substantivo, como os demais. O QUE remete sempre a uma oração. Veja, por exemplo, essa frase retirada do último texto:
Estimativas apontam que a camada, no total, pode abrigar algo próximo de 100 bilhões de boe (barris de óleo equivalente) em reservas, o que colocaria o Brasil entre os dez maiores produtores do mundo.
Nesse caso, O QUE se refere à oração “abrigar algo próximo de 100 bilhões de boe” e não pode ser trocado por QUE.
3.1.1.1.c. ONDE – esse pronome, segundo gramáticas mais tradicionais, apenas retoma lugares físicos. Logo, veja as frases a seguir:
Estou em uma cidade onde o povo é feliz. (Frase adequada, pois ONDE retoma CIDADE, um lugar físico).
Estou em uma situação onde não há saída. (Frase inadequada, pois ONDE retoma SITUAÇÃO, um substantivo abstrato que não designa um lugar).
3.1.1.1.d. CUJO – esse é um pronome pouco empregado no registro oral, mas importante na escrita. Indica posse e deve ser sempre utilizado entre dois substantivos.
Exemplo: Esta é a disciplina que a prova foi fácil x Esta é a disciplina cuja prova foi fácil.
Observe agora as frases a seguir, atentando para as palavras destacadas:
A chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos). O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal que, segundo geólogos, conserva a qualidade do petróleo.
Um comunicado, em novembro do ano passado, de que Tupi tem reservas gigantes, fez com que os olhos do mundo se voltassem para o Brasil e ampliassem o debate acerca da camada pré-sal. À época do anúncio, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) chegou a dizer que o Brasil tem condições de se tornar exportador de petróleo com esse óleo
Nesses parágrafos, o autor optou por pronomes demonstrativos para estabelecer vínculos relacionais entre as frases.
Como os períodos conectados são muito grandes, o uso de pronomes relativos não traria tão bons resultados em termos de coesão e clareza. Ademais, para que um pronome relativo seja usado, é preciso que o referente a que ele remete esteja bem próximo. Do contrário, formam-se construções confusas ou ambíguas, como “A mulher do rapaz, que tinha um amante, muito morreu”. Nesse caso, se o autor queria dizer que a mulher tinha um amante, acabou redigindo um enunciado com duplo sentido, em que o pronome relativo pode conectar a informação “ter um amante” à “mulher” ou ao “rapaz”.
Pensando nessas questões, leia novamente o primeiro parágrafo destacado. A palavra “nesta” (preposição “em” + pronome demonstrativo “esta”) retoma um referente razoavelmente distante: “uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina”. Estando esses elementos em frases distintas, separados por uma série de outras estruturas, seria impossível o uso de pronome relativo.
De maneira análoga, veja agora o segundo parágrafo anteriormente destacado. Nele, o pronome “esse”, acompanhando o substantivo “óleo”, aponta para uma expressão anteriormente mencionada, mas não na mesma frase: “reservas gigantes”. Novamente, a extensão do enunciado exige que ele seja dividido em períodos diferentes, o que impede o uso de pronomes relativos como mecanismos de coesão.
Vale, no entanto, chamar a atenção para um fato: alguns gramáticos mais tradicionais estabelecem regras precisas para o uso de ESTE, ESSE e AQUELE, quando usados para apontar para outra informação no texto. Observe:
3.1.1.2.a. ESTE x ESSE – Embora poucos autores façam essa distinção hoje em dia, os mais conservadores afirmam que ESSE remete a um referente que já foi mencionado; ESTE, a um referente posterior.
Exemplos:
A violência no Brasil cresce a cada dia. Esse problema é grave.
O que me assusta é este problema: a violência.
3.1.1.2.b. ESTE x AQUELE – quando houver dois referentes já mencionados e o autor desejar fazer remissão a ambos, o mais próximo será tratado por ESTE; o mais distante, por AQUELE.
Exemplo:
Crio cães e pássaros: estes vivem na gaiola; aqueles, no canil.
Os trechos a seguir poderiam se tornar mais coesos, caso fosse empregado o recurso da coesão referencial por pronomes relativos. Aplique tal estratégia coesiva, unindo as informações em uma única frase. Não mude, porém, a ordem em que aparecem os períodos.
Além dos pronomes, outros recursos linguísticos podem estabelecer coesão referencial. Nesse sentido, os itens do léxico desempenham um papel preponderante, uma vez que permitem o estabelecimento da cadeia coesiva de forma precisa e clara, pouco sujeita à ambiguidade.
Para entendermos melhor como nomes e verbos podem estruturar e concatenar as partes de um texto, vamos ler a notícia a seguir:
Insetos atacaram dois casais e os animais na noite de domingo, em Porto Alegre.
Nesta segunda, bombeiros acabaram com os enxames.
Abelhas atacaram dois casais e dois cachorros na noite de domingo (6), em Porto Alegre. Os cães, da raça poodle, não resistiram aos ferimentos e morreram. Os bombeiros foram até o local nesta segunda-feira (7), localizaram e acabaram com os enxames.
Segundo reportagem do Zerohora.com, uma mulher de 60 anos e o companheiro dela, de 56 anos, foram levados para o hospital, mas não correm risco de morrer. Ela teve crise de vômito e ele desmaiou.
Os insetos se alojaram no assoalho de uma casa no bairro Santo Antônio. Quatro imóveis adiante, a equipe dos bombeiros conseguiu extinguir outro foco. Inseticida e óleo diesel foram usados pelos oito homens na tentativa de exterminar as abelhas do porão da residência. Ao todo, foram retirados três sacos de lixo lotados de favos de mel.
"As madeiras que tivemos que retirar para encontrar os enxames saíram com uma grande quantidade de favos. Era um enxame muito grande, tanto que perdemos uma manhã inteira somente nestas duas ocorrências", afirmou o capitão do Corpo de Bombeiros, Adilomar Silva.
A quadra foi isolada pelos bombeiros. Temendo um novo ataque, a vizinhança fechou portas e janelas.
Esse não é o primeiro ataque de abelhas na capital gaúcha. Entre novembro e dezembro, foram registrados ataques desses insetos a cavalos, cachorro e pato.
Nessa notícia, você pôde notar que as palavras destacadas estabelecem entre si uma cadeia que conecta as novas ideias adicionadas ao que já havia sido dito no texto, garantindo-lhe unidade. Para tanto, o autor valeu-se de diferentes estratégias de coesão referencial lexical:
a. Repetição de palavras – o mecanismo mais óbvio que permite ao leitor relacionar duas partes de um texto é empregar mais de uma vez uma mesma palavra, que passa a funcionar como ponte entre as ideias. Na notícia anterior, os termos “abelhas” e “bombeiros” apareceram mais de uma vez, sempre introduzindo novas informações a respeito desses seres. No entanto, o uso excessivo desse mecanismo coesivo empobrece o texto e sugere problemas com vocabulário.
b. Sinonímia – esse é o recurso mais frequentemente empregado para evitar a repetição de palavras e garantir coesão ao texto. Veja, na notícia anterior, que o autor redigiu a seguinte frase: “Abelhas atacaram dois casais e dois cachorros na noite de domingo (6), em Porto Alegre. Os cães, da raça poodle, não resistiram aos ferimentos e morreram”. Nesse caso, o uso de “cães”, sinônimo de “cachorros”, retoma a ideia anterior sem necessidade de reutilização de um mesmo vocábulo.
c. Hiperonímia – Se às vezes perdemos muito tempo buscando sinônimos enquanto escrevemos, os hiperônimos podem oferecer alternativas mais rápidas para estabelecer a coesão textual. Para empregá-los, basta utilizar uma palavra de sentido mais amplo para fazer referência a outra de sentido mais específico. Na notícia anterior, o autor escreveu “insetos”, para se referir a “abelhas; e “animais”, para se referir a “cachorros”.
Se traduzirmos isso para uma representação gráfica dos conjuntos, teremos:
Você precisa, porém, tomar cuidado para não utilizar hiperônimos vagos demais, como “coisa”, “elemento” ou “ser”, pois esses termos, excessivamente genéricos, poderiam retomar qualquer informação já mencionada, causando, inclusive, ambiguidades indesejadas.
d. Hiponímia – embora mais raro, esse recurso também pode ser usado, geralmente na forma de exemplificação. Trata-se do oposto da hiperonímia, ou seja, deve-se empregar um termo mais restrito para retomar um mais vago. No texto que estamos analisando, o autor utilizou “o capitão do Corpo de Bombeiros, Adilomar Silva”, que remete diretamente a “bombeiros”, expressão mais vaga anteriormente citada.
e. Perífrase – uma perífrase permite ao autor do texto retomar um termo anterior ao mesmo tempo em que o explica. Assim, além de evitar a repetição de palavras e manter a coesão, esse recurso traz a possibilidade de potencializar o caráter expositivo ou argumentativo do texto. Veja:
“Esse não é o primeiro ataque de abelhas na capital gaúcha”.
Ao empregar uma perífrase para retomar o nome “Porto Alegre”, o autor teve a oportunidade de tornar o texto mais informativo, apresentando dados adicionais ao substantivo “Porto Alegre”. No entanto, caso preferisse, o redator poderia ter escrito “Esse não é o primeiro ataque de abelhas na melhor cidade para se viver no Brasil” ou “Esse não é o primeiro ataque de abelhas na cidade brasileira menos segura diante da ferocidade dos insetos”. Em ambas as situações, a perífrase se tornaria não mais um mero mecanismo de coesão, funcionando também para a reafirmação do ponto de vista defendido no texto argumentativo.
Enquanto os mecanismos de coesão referencial servem para retomar outras partes do texto, adicionando informações novas a respeito de determinados aspectos que já haviam sido citados (ou, mais raramente, que ainda seriam citados), a coesão sequencial estabelece relações lógicas entre orações, frases e parágrafos. Tal recurso coesivo é desempenhado pelas conjunções e, com menor frequência, pelas preposições, expressando vínculos de causa, consequência, comparação, contraste, adição etc. entre as informações.
Para ver melhor como isso funciona, leia o texto a seguir:
No dia 25 de setembro, comemora-se o Dia da Tia Solteira. A origem da data não é conhecida, mas a cada ano ganha mais divulgação. O fato é que hoje as solteiras não são apenas as que ficaram para titia, como costumava se dizer, mas sim mulheres que, por opção, privilegiam a carreira ou não têm pressa em oficializar um relacionamento.
Uma das principais justificativas para não se investir no casamento é o trabalho remunerado, que ganhou força nas últimas décadas. Apesar de não haver dados precisos sobre o número de mulheres solteiras - o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a cada dez anos não pesquisa o fato - estudos localizados apontam crescimento no número de mulheres sem "parceiro oficial".
Foi o que mostrou a tese de doutorado de Eliane Gonçalves Vidas no singular: noções sobre "mulheres sós" no Brasil contemporâneo. Segundo a pesquisadora, o senso comum e a mídia ainda pressupõem o casamento como condição privilegiada de saúde e felicidade, mas atualmente as mulheres solteiras não têm nada de solitárias e insatisfeitas.
"Morar sozinha é para elas um sinal de status. Esse estilo de vida as distingue socialmente como mulheres autônomas e donas de si", disse Eliane. Mas, mesmo seguras de sua decisão, as mulheres não escapam a demonstrações de preconceitos.
A secretária bilíngue Silvana Lupinetti, 46 anos, se sente menosprezada quando contrata serviços para realizar tarefas tidas como exclusivamente masculinas. "Quando preciso fazer algum conserto em casa ou no carro, sempre me perguntam se tenho marido ou namorado, o que acho muito constrangedor", disse. "É como se fosse obrigatória a presença masculina." Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha por estar solteira. "Ela me falou que preferia um casal. Fiquei muito magoada e me senti defeituosa. Até porque quem garante que o casal vai ficar junto o resto da vida?", disse.
(...)Destacamos no texto alguns dos vocábulos que estabeleciam conexões lógicas entre as orações, entre os quais podemos observar alguns mais atentamente, a fim de melhor compreender a coesão sequencial. Veja, por exemplo, o período a seguir, retirado do texto:
Nessa frase há 3 orações, sendo as relações entre elas articuladas por conectivos. Entre as duas primeiras orações, encontramos a conjunção QUANDO, que indica concomitância de ações. Assim, a secretária se sentiria menosprezada NO MOMENTO EM QUE contrata serviços.
Da mesma forma, a preposição PARA liga a segunda e a terceira oração, estabelecendo entre elas uma relação de finalidade. Assim, o objetivo da secretária, ao contratar serviços, é que se realizem tarefas. Por fim, o tipo de tarefa de que precisa Silvana é introduzido pelo vocábulo COMO, que expressa noção de comparação com o universo exclusivamente masculino.
A seguir, vamos estudar de maneira mais aprofundada as principais relações lógicas que os conectivos podem estabelecer. Para isso, tomaremos exemplos do texto “Mulheres bem resolvidas comemoram Dia da Tia Solteira”.
Observe o período a seguir:
Nessa frase, a conjunção MAS estabelece uma relação de oposição entre as orações, de modo que o desconhecimento da data se opõe à sua crescente divulgação.
No entanto, outros conectivos poderiam desempenhar o mesmo papel. Veja:
Exemplos:
Observe que, embora todos esses conectivos expressem basicamente a mesma ideia, têm um comportamento sintático diferente: à exceção de “mas”, todos os outros têm mobilidade na oração, podendo ser posicionados em diferentes locais da frase.
Exemplos:
Fazendo-se alterações mínimas nos tempos verbais, outras estruturas poderiam também estabelecer oposição entre as orações. Observe:
Exemplos:
Leia o trecho a seguir
“(...) atualmente as mulheres solteiras não têm nada de solitárias e insatisfeitas”.
Nesse caso, a conjunção E foi usada para adicionar as ideias de solidariedade e insatisfação. No entanto, como se trata de uma adição de negativas, poderia ser usada a conjunção NEM (=E NÃO)
“(...) atualmente as mulheres solteiras não têm nada de solitárias nem insatisfeitas”.
Observações:
Veja agora a frase a seguir:
Observe a palavra COMO, que conecta duas importantes informações nesse trecho. Essa conjunção está indicando a noção de conformidade entre o conceito de mulher solteira e a forma como as pessoas costumavam se referir a elas. Relações lógicas de conformidade são especialmente importantes na escrita acadêmica quando temos de usar argumentos de autoridade, isto é, citar ao longo do texto os autores em que nos baseamos.
Há ainda outras possíveis redações para a frase em destaque, variando apenas o conectivo. Veja.
Exemplos:
“O fato é que hoje as solteiras não são apenas as que ficaram para titia, conforme costumava se dizer (...)”.
“O fato é que hoje as solteiras não são apenas as que ficaram para titia, consoante costumava se dizer (...)”.
“O fato é que hoje as solteiras não são apenas as que ficaram para titia, segundo costumava se dizer (...)”.
Leia o trecho a seguir:
Nesse caso, a preposição POR introduz uma causa (“estar solteira”) para Silvana ter sido preterida na escolha de madrinha. As relações causais estão entre as mais importantes na construção de um texto, especialmente no que diz respeito à argumentação.
Sendo tão essencial à boa redação, essa relação lógica pode ser expressa por diferentes conectivos, com alterações mínimas nos tempos verbais. Veja:
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha devido a estar solteira”.
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha por causa de estar solteira”.
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha porque está solteira”.
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha já que está solteira”.
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha visto que está solteira”.
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha dado que está solteira”.
“Recentemente Silvana foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha uma vez que está solteira”.
Intimamente relacionada com a causa, a noção de consequência pode ser obtida com um simples rearranjo de frases que, inicialmente expressavam causas. Muda, no entanto, o segmento sobre o qual recai a ênfase. Veja:
Como nos demais casos vistos até agora, outros conectivos podem expressar uma ideia consecutiva. Observe:
“Silvana está solteira, então foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
“Silvana está solteira, por isso foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
“Silvana está solteira, portanto foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
“Silvana está solteira, de modo que foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
“Silvana está solteira, de forma que foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
“Silvana está solteira, tanto que foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
“Silvana está solteira, de maneira que foi preterida na escolha de madrinha do filho de uma sobrinha”.
Vimos anteriormente um exemplo de conectivo que expressa finalidade, mas não analisamos a fundo outras possibilidades de redação para que se estabeleça essa relação lógica. Para tanto, leia a frase a seguir:
Nesse caso, a preposição PARA introduz a finalidade, isto é, o propósito das justificativas: não investir no casamento.
Todavia, a mesma frase poderia ser reescrita de diversas formas, apenas substituindo o conectivo (e às vezes fazendo mudanças mínimas na estrutura verbal). Veja:
Exemplos:
“Uma das principais justificativas para que não se invista no casamento é o trabalho remunerado (...)”.
“Uma das principais justificativas a fim de não se investir no casamento é o trabalho remunerado (...)”.
“Uma das principais justificativas com o objetivo de não se investir no casamento é o trabalho remunerado (...)”.
“Uma das principais justificativas com o fito de não se investir no casamento é o trabalho remunerado (...)”.
Relacione as três orações de cada grupo em um parágrafo, utilizando os recursos de coesão que você aprendeu nesta aula. Não deixe de estabelecer as relações lógicas indicadas entre parênteses:
Nesta aula, você aprendeu e exercitou um pouco mais suas técnicas de leitura e produção textual, com ênfase no fenômeno da coesão. Esperamos que, com estas dicas, você potencialize ainda mais sua competência comunicativa, essencial para o sucesso na vida profissional e acadêmica.
A coesão é o fenômeno que permite ao texto, por meio de pistas linguísticas, indicar relações lógicas e retomadas entre suas partes. Para uma simples retomada de ideias anteriores (ou mesmo antecipação de informações posteriores), utilizamos a coesão referencial, que pode ser estabelecida por pronomes ou itens do léxico (verbos e nomes). Para expressar relações de sentido entre ideias, como noções de causa, consequência, comparação, contraste, adição etc., usamos a coesão sequencial, que pode ser expressa por conjunções ou preposições.
Na próxima aula, você estudará o fenômeno da coerência textual, que afiança uma relação não contraditória entre as partes do seu texto e o mundo real. Enquanto a coesão garante haver conexões, a coerência garante fazer sentido aquilo que se escreve. Juntas, asseguram qualidade e legibilidade ao texto, objetivos que almejamos neste curso.
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