Sobre este assunto Marcelo Souza:
"O conceito de gestão, há bastante tempo estabelecido no ambiente profissional ligado à administração de empresas (gestão empresarial), vem adquirindo crescente popularidade em conexão com outros campos. No Brasil, desde a segunda metade da década de 80 se vem intensificando o uso de expressões como gestão urbana, gestão territorial, gestão ambiental, gestão educacional, gestão de ciência e tecnologia e outras tantas".
Na interpretação de alguns, a palavra gestão veio bem a calhar como um sucedâneo do termo planejamento. Largamente desacreditado e associado a práticas maléficas e autoritárias na esteira da "crise do planejamento (urbano e regional)" que, inicialmente em um plano ideológico, chegou ao Brasil nos anos 80 (sob influência das críticas de corte marxista iniciadas na Europa e nos EUA nos anos 70), a própria palavra planejamento deveria, para vários analistas, ser banida e, na melhor das hipóteses, substituída por outra. (Se bem que alguns intelectuais, conforme já foi exposto na Introdução, passaram a acalentar uma curiosa ojeriza pela idéia de intervenção em si.) No que concerne aos fundamentos materiais do exercício do planejamento em uma sociedade capitalista - um Estado bem organizado e com capacidade de intervenção e realização de investimentos -, a crise fiscal do Estado, o colapso do modelo de substituição de importações e do estilo desenvolvimentista pautado na state-centred matriz, (CAVAROZZI, 1992), tudo isso sob a égide ideológica do neoliberalismo, concorreram decisivamente, "pela direita", no Brasil da década de 90, para enfraquecer o sistema de planejamento e a própria legitimidade do exercício de planejar. Contra esse pano de fundo, o termo gestão traz, para alguns observadores, a conotação de um controle mais democrático, operando com base em acordos e consenso, em contraposição ao planejamento, que seria mais tecnocrático (MACHADO, 1995).
Não obstante, a pretendida (não por todos, felizmente) substituição de planejamento por gestão baseia-se em uma incompreensão da natureza dos termos envolvidos. (SOUZA, 2002, 45-46)