Neurocognição

Por que e para que esquecemos?

Como toda a evidência disponível indica que a maioria das memórias se perde, surgem várias perguntas.

A primeira é, sem dúvida, por que esquecemos? Esquecemos talvez, em parte, porque os mecanismos que formam e evocam memórias são saturáveis. Não podemos fazê-los funcionar constantemente de maneira simultânea para todas as memórias possíveis, as existentes e as que adquirimos a cada minuto. Isso obriga naturalmente a perder memórias preexistentes, por falta de uso, para dar lugar a outras novas. (Mais adiante explicaremos este mecanismo que é fundamental para o esquecimento.)

Não sabemos se os mecanismos por meio dos quais se guardam no cérebro os elementos principais de cada memória são ou não são saturáveis. É até possível que não o sejam, já que há tantos neurônios e tantas interconexões entre eles. Temos no cérebro humano muitos bilhões de neurônios. Destes, os do córtex cerebral recebem entre 1.000 a 10.000 conexões (sinapses) procedentes de outras células nervosas, e emitem prolongamentos que fazem conexão com outros dez a 1.000 neurônios. Como se vê, as possibilidades de intercomunicação entre as células do cérebro são imensas, e de cada uma destas conexões ou sinapses podem surgir memórias; sem contar o fato de que cada conexão pode participar de muitas memórias diferentes. Acredita-se que as memórias dependem de alterações na conformação das sinapses. É, portanto, altamente provável que a capacidade de armazenamento seja gigantesca.

Mas há inúmeras evidências recentes de que, na hora de sua formação e na hora de sua evocação, os sistemas cerebrais que se encarregam das memórias de longa duração, que envolvem fundamentalmente uma estrutura do lobo temporal chamada hipocampo, são altamente saturáveis. O mesmo ocorre com os sistemas encarregados de analisar on line as informações correspondentes à aquisição e à evocação das memórias, que analisaremos a seguir. O hipocampo é a principal estrutura do sistema nervoso dos mamíferos envolvida tanto na formação como na evocação das memórias.

A segunda grande pergunta que surge do que vimos até agora é: para que precisamos esquecer? A resposta a essa pergunta abrange muitos aspectos diferentes e será respondida ao longo das próximas páginas. Como veremos, em boa parte esquecemos para poder pensar, e esquecemos para não ficar loucos; esquecemos para poder conviver e para poder sobreviver.

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