As tentativas de ligar a neurogênese à aprendizagem e à memória são inconclusivas. O hipocampo é considerado o portal da memória: processa informações antes do armazenamento de longo prazo nas regiões corticais. Este processo é denominado consolidação da memória, e acreditamos que a função dos novos neurônios tenha alguma ligação com ele. Mas as novas células não são adicionadas ao hipocampo como um "chip de memória", uma vez que seu número seria baixo demais para armazenar quantidade significativa de informações. Além disso, as informações são armazenadas na força das conexões em uma rede de neurônios, e não em células individuais. Nossa hipótese é que os novos neurônios são adicionados de forma estratégica a rede de processamento do giro denteado e possivelmente sejam os novos guardiões dos portais da memória, modificando o processador de acordo com o aumento das necessidades funcionais.
Uma questão que deve ser esclarecida é se a neurogênese ocorre em outras partes do cérebro. A neurogênese adulta foi descrita em duas regiões: o hipocampo e o sistema olfativo, e há grande controvérsia em torno de sua existência fora delas. Apesar de Gould ter relatado números surpreendentes de novos neurônios no neocórtex, essa descoberta foi convincentemente desafiada por David Kornack, da University of Rochester, e por Pasko Rakic que, após minuciosa análise microscópica, não conseguiram encontrar novos neurônios corticais.
Sabe-se, com base em estudos de cultura celular realizados com roedores, que células-tronco neuronais capazes de produzir neurônios em uma placa de Petri podem ser derivadas de praticamente qualquer região do cérebro, inclusive do córtex. Porém, sob condições fisiológicas, nenhum neurônio parece se desenvolver a partir destas células enquanto se encontram no cérebro e fora das duas regiões neurogênicas clássicas. Jeffrey D. Macklis e colegas da Harvard University demonstraram que, sob condições de lesão altamente específicas e circunscritas a neurônios individuais no córtex de camundongos, essas células podem ser substituidas por células progenitoras naturais, ou endógenas. A descoberta não se aplica com facilidade a condições mais gerais, mas mostra que, em principio, a neurogênese cortical é factível.
Como podemos utilizar o potencial neurogênico das células-tronco neuronais do cérebro adulto para fins terapeuticos? É possível que um dia se descubra que a neurogênese direcionada seja, de fato, uma opção para os distúrbios neurológicos. Diversas perguntas ainda devem ser respondidas, mas, com o crescente interesse nesta área, é possível que este potencial se torne realidade antes do esperado.